Abit faz balanço do primeiro semestre de 2025 e apresenta perspectivas do setor
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Em coletiva de imprensa realizada na quarta-feira, dia 20, o diretor-superintendente da Abit – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, Fernando Pimentel, apresentou os dados do segmento destacando nossa cadeia têxtil, uma das poucas no mundo a manter produção completa, integrada e verticalizada, que segue enfrentando desafios, embora demonstre sinais de recuperação em alguns indicadores.
No quadro macroeconômico, o setor movimenta 221 bilhões de reais por ano, reunindo 25,5 mil empresas com mais de cinco empregados e gerando 1,31 milhão de empregos diretos. São 39,1 bilhões de reais em salários pagos e nos 24,4 bilhões de reais em impostos e taxas recolhidos. Esses números colocam o Brasil na quinta posição no ranking mundial da indústria têxtil e de confecção.
De acordo com os dados da entidade, de janeiro a junho, o varejo de vestuário cresceu 5,5 por cento em relação ao mesmo período de 2024 e, no acumulado de 12 meses, a alta foi também de 5,5 percentuais.
A inflação do vestuário foi de 2,1 por cento até julho, ante 4,95 por cento do IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo - geral. Os números do IPP – Índice de Preços ao Produtor subiram 0,44 percentuais no setor têxtil e 0,71 por cento no de vestuário. Em 12 meses, a inflação do vestuário está em 4,12 percentuais, ante 5,35 por cento da nacional, o IPP têxtil em 2,80 por cento e o IPP vestuário em 2,34 percentuais.
“Desde que o Real entrou em circulação a inflação do têxtil e do vestuário foi sempre a menor inflação dos noves itens que compõem o IPCA; temos muita concorrência, mas também uma grande resiliência e capacidade de atender o mercado interno e essa é a prova cabal dela”, explicou Pimentel.
Produção e empregos
O primeiro semestre registrou alta de 11,4 por cento no segmento têxtil e de 1,8 percentuais no vestuário em comparação ao mesmo período de 2024. No acumulado dos últimos 12 meses, esses percentuais sobem para 17,7 por cento e 18,9 percentuais, respectivamente.
O emprego acompanhou esse movimento e tivemos a abertura de 10 mil postos de trabalho na indústria têxtil e 12,3 mil na confecção, totalizando 22,3 mil, entre janeiro e junho de 2025, enquanto no acumulado em 12 meses foram criados 7,7 mil postos formais.
Saldo é deficitário na balança comercial
A balança comercial manteve o saldo deficitário: em 2024, o setor exportou 908 milhões de dólares e importou 6,6 bilhões de dólares, acumulando um déficit de 5,7 bilhões de dólares, situação que se prolonga em 2025, agravada pelo crescimento de 10,8 por cento das importações em volume até julho, frente a um aumento de 12,3 percentuais nas exportações.
Entre janeiro e julho de 2025, as exportações brasileiras do setor somaram 565 milhões de dólares, um crescimento de 8,58 por cento em relação aos 520 milhões de dólares registrados no mesmo período de 2024. As importações totalizaram 3,94 bilhões de dólares, registrando alta de 7,72 percentuais frente aos 3,66 bilhões de dólares de um ano antes. Com isso, o déficit comercial setorial aumentou 7,58 por cento, passando de 3,14 bilhões de dólares para 3,37 bilhões de dólares. Em volume, as exportações subiram de 96 mil para 108 mil toneladas, representando um avanço de 12,29 por cento, enquanto as importações cresceram 10,84 percentuais, de 1,08 milhão para 1,2 milhão de toneladas, ampliando o déficit em 10,70 por cento.
Pimentel destacou as barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos, que recentemente ampliaram tarifas sobre produtos brasileiros, chegando a 50 por cento para a maioria dos itens do setor. Isso representa mais um desafio para uma indústria já pressionada por práticas desleais de comércio, como subfaturamento e pirataria, além da concorrência acirrada com grandes exportadores globais, como China, Vietnã, Bangladesh e Índia.
Mobilização institucional e política
O dirigente lembrou que, diante das restrições impostas pelos Estados Unidos, a Abit está propondo medidas compensatórias para as empresas brasileiras. “Queremos que nossas indústrias sejam contempladas em ações de suporte à perda temporária de mercado norte-americano”. Além disso, na busca por conquistar ou ampliar mercados, “estamos trabalhando em novos acordos com a União Europeia, Mercosul e a EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio, na sigla em inglês), além de insistirmos na agenda de redução do ‘Custo Brasil’, medida essencial para aumentar a competitividade”, declarou.
Pimentel também alertou para a forte pressão dos importados, cujo crescimento tem superado a expansão do mercado interno. “Isso significa perda de market share para nós. E não falamos apenas das importações tradicionais, mas também das que chegam pelas plataformas digitais, que crescem de maneira acelerada”.
Pela primeira vez, o setor foi incluído explicitamente em uma política industrial nacional – a NIB - Nova Indústria Brasil, o que deve ter desdobramentos positivos em termos de financiamento e estímulo à inovação.
Segundo o diretor-superintendente, os avanços também passam pela economia circular e pelas práticas ESG. “Temos uma agenda robusta nessas áreas e precisamos intensificar os investimentos. O setor continua a empregar e a investir, mas há risco de perdas se não conseguirmos redirecionar parte da produção que antes tinha como destino os Estados Unidos”, explicou. De acordo com Pimentel é preciso manter equilíbrio entre realismo e otimismo. “Temos desafios, sim, mas também um setor que segue resiliente, investindo e buscando caminhos para crescer”, concluiu.