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Conjuntura Internacional obriga indústria calçadista a refazer projeções de crescimento

EUA e Argentina, principais compradores dos calçados brasileiros, estão sendo impactados pelo tarifaço de Trump e pelas fracas reservas internacionais do país vizinho
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Da esquerda para a direita, Priscila LInck e Marcos Lélis Credits: Abicalçados
By Marta De Divitiis

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Com o impacto do tarifaço promovido pelos Estados Unidos contra os produtos brasileiros, entre eles os calçados, desde agosto, a Abicalçados - Associação Brasileira das Indústrias de Calçados refez as projeções de crescimento do setor para 2025 e 2026. A projeção foi divulgada durante o Análise de Cenários, evento da entidade que aconteceu ontem, quarta-feira (8) em coletiva virtual. Agora, o crescimento da produção projetado para 2025, que era estimado entre 1,4 e 2,2 por cento no início do ano, passou para uma faixa entre -1,1 e +1,4 percentuais. Já para 2026, a projeção aponta para um intervalo entre -0,5 e +2,1 por cento. Com as estimativas, a indústria calçadista deve produzir entre 919,2 milhões e 942,5 milhões de pares este ano de 2025 e entre 914,6 milhões e 962,3 milhões de pares em 2026.

O evento foi conduzido pelo doutor em Economia e consultor setorial Marcos Lélis e por Priscila Linck, economista e coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados. Começou com uma análise dos cenários econômicos internacional e nacional, realizada por Lélis. Segundo ele, as revisões levam em consideração, principalmente, o cenário incerto diante do tarifaço dos Estados Unidos e a possibilidade de uma queda nas importações da Argentina em função das parcas reservas internacionais do país. “Como são os dois principais destinos do calçado brasileiro no exterior, devemos ter um impacto importante nas exportações, especialmente em 2026, caso o tarifaço siga em vigência”, explica.

Mesmo que ainda registre números positivos, a economia nacional vem desaquecendo nos últimos três meses. De acordo com o consultor, em maio, o crescimento acumulado do PIB era de 4 por cento, sendo que no último registro, em agosto, esse incremento passou para 3,27 percentuais. Conforme projeção do FMI – Fundo Monetário Internacional, para este ano, o PIB brasileiro deve crescer 2,2 por cento. Já, para 2026, o aumento tende a ser menor, de 1,8 percentuais. O mercado interno é que vem segurando a economia brasileira ao longo de 2025, principalmente no primeiro semestre. Com uma taxa de desemprego de 5,6 por cento, segundo os últimos dados digulvados pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - e o crescimento da renda real média, na faixa de 3.380 reais, o mercado doméstico segue consumindo, mesmo que em menores volumes. O que limita o crescimento maior do consumo doméstico, segundo Lélis, é o endividamento das famílias, hoje em 78,8 por cento. Ainda, conforme o Banco Central, 27,6 percentuas da renda do brasileiro é consumida por dívidas, sendo quase 10 por cento da renda comprometida para pagamentos de juros. Para diminuir o endividamento, de acordo com o economista, é preciso abrir espaços para a redução dos juros, hoje em 13,89 percentuais (de longo prazo), o que, acredita, deve acontecer somente a partir de 2026.

Projeções para o terceiro e quarto trimestre de 2025 apontam números insatisfatórios

Na segunda parte do Análise de Cenários Priscila Linck trouxe os dados e projeções específicas do setor calçadista. Com uma produção que caiu 2,3 por cento no período de janeiro a agosto, no comparativo com o mesmo período do ano passado, a atividade se vê sem um impulso do mercado doméstico e dificuldades nas exportações, prejudicadas pelo tarifaço aplicado pelos Estados Unidos; a crise de reservas na Argentina; e a concorrência do calçado chinês em mercados cativos para o produto brasileiro.

Para o terceiro trimestre, segundo Priscila, a projeção é de um decréscimo de 4 por cento na produção. Para o último trimestre de 2025, o setor deve ter um crescimento de 2,7 percentuais. Com isso, o ano deve encerrar com estabilidade em relação a 2024, com crescimento de 0,2 por cento. Com a estimativa, a atividade deve produzir pouco mais de 930 milhões de pares em 2025.

Tarifaço reconfigura o panorama da exportação

Em setembro, as exportações de calçados, em volume, cresceram 18 percentuais em relação ao mesmo mês de 2024. Com uma queda significativa dos embarques para os Estados Unidos, de 23,5 por cento, foram destaques no mês nove destinos como Paraguai (+109 percentuais), Colômbia (+107 por cento) e Peru (+97 percentuais). O preço médio do calçado exportado em setembro caiu 11,5 por cento, o que é explicado pela alteração de pauta dos produtos embarcados, em detrimento dos produtos de couro. Já no acumulado de 2025, entre janeiro e setembro, no comparativo com o mesmo período do ano passado, as exportações, em volume, cresceram 7 por cento, com estabilidade na receita gerada.

Assim como a produção, o tarifaço dos Estados Unidos acabou culminando em uma revisão das projeções para exportações em 2025 e 2026. Conforme a Abicalçados, para 2025 a estimativa, que era de uma banda de crescimento entre 1,2 e 4,1 percentuais no início do ano, ficou entre 0,2 e 3,1 por cento na última projeção. Já para 2026, caso mantido o tarifaço dos Estados Unidos, os efeitos devem ser maiores, refletindo o cancelamento de pedidos dos últimos meses. A projeção da entidade é de que no próximo ano as exportações brasileiras caiam entre 9,8 e 16,3 percentuais. “O crescimento projetado para 2026 está muito mais ancorado na dinâmica do consumo interno do que nas exportações”, explicou Priscila.

Com a queda nas exportações esperadas para o próximo ano, é projetado que 91 por cento do calçado produzido no Brasil fique no mercado doméstico e apenas 9 percentuais seja exportado em 2026, pior coeficiente de exportação da série histórica, iniciada em 1998.

O patrocínio do Análise de Cenários foi da FCC – Fundação Carlos Chagas - e o apoio da ApexBrasil - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, da Assintecal - Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos e do Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. O evento ainda aconteceu em formatos presenciais nos polos presenciais em São João Batista/SC, com o apoio do Sincasjb - Sindicato das Indústrias de Calçados de São João Batista, e em Três Coroas/RS, com o apoio dos sindicatos das indústrias de calçados de Três Coroas e de Igrejinha. O evento on-line pode ser assistido no perfil do Youtube da Abicalçados.

Em resumo
  • A Abicalçados revisou as projeções de crescimento do setor calçadista para 2025 e 2026 devido ao impacto das tarifas dos EUA e à possível queda nas importações da Argentina.
  • A economia nacional está desacelerando, mas o mercado interno, impulsionado pelo baixo desemprego e pelo aumento da renda, tem sustentado o consumo, embora limitado pelo endividamento das famílias.
  • As exportações de calçados cresceram em setembro, mas a queda nas remessas para os EUA devido às tarifas levou a uma revisão das projeções de exportação para 2025 e 2026, com expectativa de queda nas exportações no próximo ano.
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