Entrevista: Insecta Shoes quer conquistar os mercados europeu e norte-americano
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Tudo começou em 2014 na Urban Vintagers, um brechó em Porto Alegre. Pam Magpali, então dona da extinta marca de sapatos sustentáveis MAG-P Shoes, não pôde deixar de reparar na pilha de roupas que a dona do brechó, Barbara Mattivy, tinha separado para reparos. Ela se apaixonou pelas estampas coloridas e pediu para fazer sapatos usando aqueles tecidos. Hoje, as duas estão à frente da Insecta Shoes, uma marca de calçados vegana que faturou 2,8 milhões de reais em 2018 e espera um crescimento de 30 por cento em 2019.
Auto-intitulada “ecosexy”, a Insecta Shoes visa unir ética e estética: além das roupas de segunda mão, a empresa também usa poliéster feito com garrafas PET recicladas, algodão reciclado, papelão reciclado e borracha reaproveitada de resíduos da indústria. Seus sapatos, conhecidos pelas estampas coloridas e inspiradas na natureza, são carinhosamente apelidados de “besouros”, inseto que também aparece no logo da marca. Tendo produzido mais de 28 mil pares de sapato nos últimos cinco anos, a Insecta já reaproveitou mais de 2.194 metros de tecido, reciclou mais de 900 quilos de algodão, 21 mil garrafas PET, 1.560 caixas de papelão e 6.600 quilos de borracha.
Os sapatos da Insecta são fabricados aqui mesmo, no Brasil, e a empresa faz questão de só trabalhar com fábricas onde todo mundo tenha carteira assinada e salário digno. Além disso, a empresa tem o feminismo em seu DNA: 15 de seus 16 funcionários são mulheres.
O que começou como uma simples loja virtual logo passou para o mundo offline, com duas lojas em Porto Alegre e São Paulo. A marca também é vendida por dez varejistas multimarcas em Brumadinho (Minas Gerais, Nova York, Los Angeles, Toronto, Berlim, Barcelona e Paris. Mas a Insecta quer mais: a empresa acaba de lançar um e-commerce focado no mercado norte-americano (shopinsecta.com) e um centro de distribuição na América do Norte. Além disso, Barbara está de malas prontas para o Canadá, talvez para nunca mais voltar. A FashionUnited conversou com ela para conhecer melhor a marca.
Quais foram os principais desafios que você e Pam enfrentaram quando começaram a Insecta?
A gente não fez muito planejamento de negócios, marketing ou produção no início. Começamos com um investimento inicial muito baixo para minimizar o risco e entender se o mercado aceitaria uma marca de sapatos tão coloridos e estampados -- algo novo, né? Por sorte deu super certo, mas a gente atrasou um pouco nosso crescimento porque fomos aprendendo com a experiência e com os erros, ao invés de ter pesquisado e planejado melhor antes. O que não é ruim, é só um jeito menos convencional de fazer as coisas.
A Insecta começou fazendo sapatos com roupas de brechó. Hoje, utiliza tecidos reciclados de garrafas PET. Conte-nos um pouco mais sobre a decisão de mudar.
Os vintages nunca deixaram de existir, mas era difícil escalar o negócio com eles, pois são muito exclusivos e limitados. Por exemplo, com um vestido eu faço apenas 5 pares de sapato. Muitos clientes se frustravam por não encontrar suas numerações na estampa desejada. A linha de plástico reciclado foi a alternativa igualmente sustentável que conseguimos encontrar para oferecer uma grade mais completa pro nosso consumidor. Mas a linha vintage continua lá, com edições cápsula limitadas para quem curte exclusividade.
A Insecta começou apenas como ecommerce e hoje tem duas lojas próprias, em São Paulo e Porto Alegre. Por que a decisão de partir para as lojas físicas? Quais os principais desafios desse novo passo?
Acredito numa estratégia que mescle ecommerce e loja física, pois são ofertas de varejo bem complementares. Como estamos falando de sapato, as pessoas ainda sentem a necessidade de experimentar, entender se ele é realmente confortável, estar em contato mais próximo com a marca. Nas lojas físicas conseguimos criar nosso cantinho para receber clientes em eventos especiais também, que nos ajudam na luta de conscientização diária sobre assuntos ecológicos.
Há planos de abrir mais lojas?
Temos planos de abrir mais uma loja em SP este ano e quem sabe, em breve, no RJ.
”Todo lixo é um erro de design”
Quais são as principais diferenças que tornam os sapatos da Insecta mais sustentáveis do que os sapatos "comuns"?
Nós tentamos ao máximo tirar materiais que estão no lixo e ressignificá-los, transformando tudo em sapato. O sapato em si é feito de várias matérias-primas, então nós somos uma das únicas marcas que se preocupa com o todo. Além do tecido do sapato ser sempre de upcycling, a sola é de borracha reciclada, a couraça e o contraforte também, a palmilha é feita com o excedente de tecido da nossa produção, até a linha de costura é feita de garrafa PET reciclada. E, além disso tudo, nós temos uma solução de logística reversa: quando o cliente não quer mais usar o sapato, nós recebemos ele de volta, para fazer a reciclagem da forma correta e não gerar mais lixo pro mundo. A gente acredita que todo lixo é um erro de design.
Quais os maiores desafios de se produzir sapatos veganos?
Hoje em dia é muito difícil achar uma matéria-prima ecológica e vegana que se assemelhe ao couro.
A Insecta faz questão de ser uma empresa transparente. O que vocês fazem, em termos de transparência, que outras empresas não fazem?
Nós temos os nossos custos abertos e mantemos uma relação de diálogo com nossos clientes. Toda quinta-feira, no nosso Instagram Stories, fazemos o dia da transparência, onde o pessoal manda perguntas e nós respondemos.
Fotos: Insecta Shoes Facebook