Gucci continua a pesar: Kering registra queda de 10 por cento nas vendas no terceiro trimestre

A Kering anunciou na quarta-feira (22) uma queda de dez por cento nas vendas do terceiro trimestre. Esta é a primeira divulgação financeira desde a posse de Luca de Meo em setembro como novo diretor-geral, cuja tarefa é recolocar o conglomerado de luxo nos eixos.

As vendas caíram para 3,4 bilhões de euros — uma queda menos acentuada do que nos trimestres anteriores. No entanto, segundo de Meo, a Kering “continua abaixo da média do mercado”, o que “reforça sua determinação de agir em todos os níveis da empresa”, como ele explicou em um comunicado à imprensa.

Esta divulgação ocorre poucos dias após o anúncio da venda da divisão de beleza para a L’Oréal na noite de domingo para segunda-feira por quatro bilhões de euros. Essa divisão havia sido criada há pouco menos de dois anos, depois que a Kering adquiriu a marca de perfumes de luxo Creed por 3,5 bilhões de euros.

O acordo inclui licenças de perfumaria de cinquenta anos para as principais marcas Gucci, Bottega Veneta e Balenciaga, bem como uma parceria de joint venture 50/50 que visa desenvolver novas “experiências e serviços”.

A venda deve ajudar o grupo, proprietário da Gucci, Bottega Veneta, Saint Laurent e Balenciaga, a reduzir sua dívida, atualmente em 9,5 bilhões de euros.

Para a Kering, segundo Luca de Meo em entrevista ao Le Figaro, “não se trata de uma virada de cento e oitenta graus, mas de uma forma de acelerar o desenvolvimento de [suas] marcas no segmento de beleza”. “É bom fazer isso sozinho, mas é melhor fazer em conjunto — especialmente com a líder de mercado L’Oréal”, explicou ele.

“Quando colocarmos nossas marcas nas mãos da L’Oréal, isso vai decolar”, continuou de Meo. A L’Oréal pagará à Kering royalties pelo uso das marcas. “A L’Oréal investe mais na presença midiática de seus perfumes do que nós em nossas marcas de moda. Vamos nos beneficiar dessa força de impacto”, acrescentou.

“Aliviar o barco” e revitalizar o negócio de moda

“Era urgente nos concentrarmos no que realmente sabemos fazer”, disse Luca de Meo ao Figaro. “O mundo está se movendo rápido — precisamos acompanhar o ritmo.” Ele “sempre esteve convencido de que a velocidade do jogo é crucial, e precisamos ganhar um pouco de ritmo”, complementou.

Os primeiros contatos entre a L’Oréal e a Kering começaram há um ano, ou seja, antes mesmo da posse de de Meo, mas se aceleraram depois que o executivo italiano se encontrou com o CEO (diretor executivo, na sigla em inglês) da L’Oréal, Nicolas Hieronimus, já no verão, antes de seu início oficial.

“Esta transação nos ajudará a aliviar o barco e a revitalizar nossas marcas de moda — principalmente a Gucci”, destacou de Meo. A conclusão do negócio está planejada para o primeiro semestre de 2026.

A Gucci, principal marca do conglomerado de luxo presidido por François-Henri Pinault, representa 44 por cento do faturamento do grupo e dois terços de seu resultado operacional. No entanto, a marca continua em uma fase difícil.

No terceiro trimestre, as vendas caíram 18 por cento, para 1,3 bilhão de euros — uma melhora em relação ao primeiro e segundo trimestres, nos quais as vendas haviam despencado 24 por cento e 27 percentuais, respectivamente.

A parceria com a L’Oréal inclui o direito de celebrar um contrato de licença exclusivo de cinquenta anos para o desenvolvimento, fabricação e distribuição de produtos de perfumaria e beleza da marca Gucci. Este entrará em vigor após o término da licença atual com a empresa norte-americana Coty.

Segundo vários analistas financeiros, essa licença expira em 2028.

“O faturamento da Yves Saint Laurent na área de beleza já é comparável ao do segmento de moda e artigos de couro, ou seja, 2,9 bilhões de euros em 2024”, explicou Luca de Meo ao Le Figaro. “Isso dá uma ideia do potencial que existe na Gucci.”