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Marca de mochilas Herschel Supply faz 10 anos. Conversamos com o CEO Lyndon Cormack

By Marjorie van Elven

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Negócios|ENTREVISTA

Lyndon Cormack, co-fundador da marca canadense Herschel Supply, está reagindo à primeira década de sua empresa da mesma maneira que suas filhas, hoje com 13 e 11 anos de idade, reagiram a seu décimo aniversário. Achando-se muito adultas, elas diziam: “não tenho mais nove anos, tenho dez!”. Agora que a marca mais conhecida por suas descoladas mochilas é vendida em mais de 10 mil pontos de venda em 90 países (inclusive o Brasil, onde está disponível na Farfetch, Reserva e Your ID Store), Cormack se sente velho e experiente. “Nós já fizemos tanta coisa… Mas aí eu me lembro quão jovens minhas filhas ainda são, o quanto ainda têm pra viver, e me dou conta do quanto ainda há pra gente fazer. Nossa empresa acabou de começar”.

A FashionUnited conversou com Cormack no showroom da marca em Amsterdã, Holanda, para saber exatamente isso: o que a marca ainda quer alcançar, dez anos depois de Cormack deixar seu emprego na Vans para começar uma empresa com seu irmão, Jamie, com quem ele dividia a opinião de que o mercado de mochilas era muito “chato”.

A marca ficou famosa graças ao modelo Little America, uma mochila com duas fivelas na frente. Graças a ela, entre 2011 e 2013, a empresa cresceu incríveis 5 mil por cento. A Little America continua sendo o produto mais vendido do catálogo da Herschel Supply até hoje, mas de lá para cá a empresa se arriscou a fazer outras categorias de produto, como carteiras, malas, chapéus, roupas e acessórios de viagem. Atualmente, as mochilas correspondem a 50 por cento das vendas, os outros 50 por cento vêm dos demais produtos.

Depois de garantir uma extensa rede de revendedores (9 mil dos 10 mil pontos de venda são atacadistas), a Herschel Supply está apostando seu futuro em lojas próprias. A primeira foi aberta no ano passado em Vancouver, no Canadá, a cidade-natal da empresa. Será que essas lojas levarão a mais uma onda de crescimento vertiginoso? Só o tempo dirá. Entre 2016 e 2017, a companhia cresceu cerca de 20 por cento.

A Herschel Supply está presente em 90 países. O que é que a marca tem que atrai consumidores de culturas tão diferentes?

Existe um grupo de consumidores sedento por cultura, gente que gosta de explorar as cidades, pegar o caminho mais longo porém mais bonito, participar de eventos culturais… Seja oferecendo soluções de viagem ou um look mais moderno para explorar o mundo, nossa marca está ajudando essas pessoas que adoram arte, design e bom acabamento. Estamos ajudando pessoas que prestam atenção nos detalhes e amam produtos simples, mas com uma pegada moderna. A moda utilitária, das ruas, e o esporte são os pilares do nosso estilo.

A Herschel Supply é conhecida pelas mochilas, mas a marca hoje em dia oferece também malas, roupas e outros acessórios. Como vocês tomaram a decisão de expandir o catálogo?

As origens da nossa empresa definitivamente estão no fato de que achávamos o mercado de mochilas muito chato, queríamos torná-lo mais interessante. Ficamos famosos por isso, o que nos abriu portas para fazer outras coisas. Mas nós demos um passo de cada vez. Os primeiros produtos que desenvolvemos foram acessórios para as mochilas. Mesmo quando decidimos produzir roupas, nossa abordagem ainda era de um ponto de vista utilitário, soluções para viagem como capas de chuva, jaquetas impermeáveis… Eram roupas com cara de acessório.

Aos poucos, fomos expandindo e hoje temos até camisetas com o nosso logo, para os fãs da Herschel que querem participar da nossa história de uma maneira diferente. Mas ainda somos muito inspirados por viagens, ainda focamos muito nessa ideia de ‘viagem aspiracional’. Cada vez mais pessoas estão viajando hoje em dia, então queremos garantir que essas pessoas tenham uma boa viagem, não importa se a viagem será curta ou longa.

A Herschel Supply pretende expandir para outras categorias de produto no futuro próximo?

Acho que sim. Nosso objetivo é servir o viajante moderno em tudo o que ele precisa. Quando eu olho para o mercado de produtos para viagem, vejo um imenso buraco. Não existe nenhuma marca hoje em dia que entenda a forma como as pessoas estão se locomovendo. Gente que vai de bicicleta trabalhar num coworking, depois pega um Uber, um BlaBlaCar, se hospeda num Airbnb, pega um vôo promocional para passar só um fim de semana em outro lugar com bagagem de mão mesmo… Tudo está mais fluido e prático e não existe nenhuma marca realmente dominando essa ideia de locomoção moderna. Acho que vamos lançar mais produtos no futuro, mas primeiro precisamos dobrar nossos esforços para produzir soluções para esse consumidor que está sempre prá lá e pra cá atrás de coisas interessantes.

A Herschel Supply também é conhecida pelas coleções colaborativas junto a outras marcas. Tem mais alguma parceria vindo por aí?

Quando duas empresas conseguem se aproximar e contar uma história interessante, esse é o momento perfeito delas colaborarem. Muitas vezes a gente vê marcas apenas colocando o próprio logo no produto dos outros, mas nós queremos ir além disso. A gente procura também sair da própria zona de conforto, fazendo parcerias com empresas que produzem coisas que nós mesmos não teríamos condições de produzir. Por exemplo, ainda esse ano lançaremos três modelos de tênis com a New Balance e um relógio Casio G-Shock. Também fizemos uma coleção bem divertida com a Hello Kitty e logo logo sairá um óculos de sol em parceria com a Oakley.

A Herschel trabalha com uma rede de mais de 9 mil varejistas ao redor do mundo. Você tem alguma dica para outras marcas de moda tentando expandir seu alcance no varejo?

Muita gente tenta descobrir como fazer seu produto estar no maior número de lojas possível, mas eu acho que antes disso você tem que dar um passo pra trás e focar no produto, em resolver um problema do consumidor que vai fazer compras nessas lojas. Se você tiver um bom produto, ele falará por si e, à medida em que a sua popularidade for crescendo, os próprios varejistas é que virão até você. Dizem que é preciso ganhar mais do que se perde, mas se você parar para analisar, vai ver que os times e empresas que mais ganham são aqueles que analisam constantemente as suas vitórias para descobrir por que ganharam e o que podem tirar daquilo para continuar ganhando no futuro.

Além dos varejistas, a Herschel agora está começando a abrir lojas próprias. Por quê?

Temos cerca de 70 franquias na Ásia, foi assim que começamos com as lojas Herschel Supply. Todas elas são pequenas, entre 50 e 120 metros quadrados. Mais recentemente, resolvemos abrir nossas próprias lojas, 100 por cento administradas por nós, em Vancouver. Uma no centro da cidade e outra um pouco mais adiante. Sim, acho importante nós termos nossas próprias lojas. Não que estejamos querendo abandonar o modelo atual, mas é importante convidar as pessoas para a sua casa. Quando você visita a casa de alguém, você aprende sobre aquela pessoa, você vê o que ela gosta, o que é importante pra ela. Com a Herschel é a mesma coisa. Se você for à nossa loja, você vai entender que somos uma marca que ama design, arquitetura, arte, viagens… Essa é a grande vantagem das lojas físicas. Por isso, nos próximos cinco anos, queremos aumentar consideravelmente o número de lojas próprias.

Em quais países vocês pretendem abrir essas lojas?

Com certeza vamos começar pelo Canadá e Estados Unidos. Quando sentirmos que aperfeiçoamos o modelo, iremos partir para as principais cidades da Europa.

Você fundou a empresa junto com seu irmão, Jamie. Como é trabalhar com um familiar?

Pra gente, simplesmente funciona. Eu não recomendaria isso a todo mundo, claro, mas pra nós, é algo que funciona. Nós trabalhamos com os pontos fortes de cada um. O Jamie é muito mais detalhista do que eu, por exemplo, eu já sou mais de planejar as coisas em linhas gerais. Como somos irmãos, não temos papas na língua: se algo não me agrada ou não agrada a ele, falamos na hora. Não é como trabalhar com as outras pessoas no escritório, com elas você precisa ser mais delicado, falar “então, e se a gente olhasse as coisas por esse outro ângulo?”. Nós não, nós dizemos “f**a-se, não funciona”.

Somos amigos primeiro, depois irmãos e só depois sócios. Sempre foi assim e sempre será. É claro que às vezes discordamos um do outro, mas são minutos, não horas ou dias. Temos momentos de estresse, mas é coisa de irmãos, eu agiria da mesmíssima forma se não trabalhasse pra ele. Quer dizer, com ele! [risos]. Agora ele vai querer enquadrar essa entrevista e pendurar na parede da casa dele!

A Herschel está completando 10 anos de existência. Do que você mais tem orgulho na trajetória da companhia?

Acho que o que mais me dá orgulho é ver a equipe trabalhando junta, ver todas as pessoas que juntamos em torno de um objetivo em comum. Começamos a empresa apenas com nós dois, então, às vezes quando vejo o tamanho da equipe que formamos, fico muito orgulhoso. “Cara, isso é muito legal, olha quanta gente nós juntamos”.

O que você espera para os próximos 10 anos?

Acho que a marca vai existir para sempre, o que pode soar meio arrogante, mas quando perguntamos a mesma coisa para nossos clientes, eles também dizem isso. ‘É claro que a marca vai durar pra sempre!’. Nos próximos cinco anos, queremos assumir mais controle sobre as nossas operações de e-commerce, principalmente na Europa, e abrir mais lojas próprias. Também queremos investir em storytelling e atendimento ao cliente porqua tem muita gente que ainda não conhece a nossa marca. “Ah, aquela mochila com as duas fivelinhas na frente! Ah, aquela mochila com o logo em formato de losango”. Ainda temos muito o que avançar nesse quesito. Queremos ser a maior e mais impactante marca de mochilas do mundo, além de um player significativo no mercado de malas e produtos para viagens.

Foto: divulgação Herschel Supply e Herschel Supply Facebook

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