Moda "patriótica" indiana é sucesso após o conflito com o Paquistão

Poucas horas após os primeiros mísseis da Índia serem lançados sobre o Paquistão, empreendedores logo farejaram uma boa oportunidade e lançaram a fabricação de camisetas e outros produtos derivados com as cores da Operação “Sindoor” (ataques de precisão realizados pela Índia contra alvos terroristas e militares no Paquistão - nota da editora).

De seis a 10 de maio, as duas potências nucleares se viram à beira de uma nova guerra, desencadeando o mais grave confronto militar desde 1999, até o cessar-fogo anunciado, para surpresa geral, por Donald Trump.

A operação ordenada pelo primeiro-ministro indiano Narendra Modi, em represália a um atentado cometido na Caxemira indiana, foi batizada de “Sindoor” – nome do pó vermelho que as esposas hindus usam na raiz de seus cabelos.

Ela foi rapidamente alvo de uma vasta campanha de propaganda nas redes sociais e na mídia nacional, a fim de estimular o sentimento patriótico hindu.

Comerciantes indianos também viram rapidamente a oportunidade de lucros consideráveis.

“Viralizou”

"Nossos designers fizeram quatro ou cinco criações" em referência à operação militar, explica à AFP Adi Arora, fundador da KadakMerch, uma empresa indiana de têxteis. "Uma vez que (nossos produtos) entraram online, viralizou e a demanda é muito alta", comemora.

Sua fábrica, localizada em uma pequena cidade industrial no norte da Índia, produziu mais de duas mil camisetas e outros produtos têxteis estampados com "Sindoor".

O "best-seller" é uma camiseta com os dizeres de um general da força aérea que se recusou a responder a uma pergunta sobre as perdas indianas: "nosso trabalho é atingir o alvo, não contar os sacos de cadáveres".

Na rede social X, um assessor do governo indiano, Kanchan Gupta, promove uma camiseta com o logotipo "Operação Sindoor", enquanto outro internauta, Anurag Sinha, exibe a mesma mensagem acompanhada do slogan "A Índia se levanta contra o terrorismo".

"O fato de que, em um momento tão grave, o governo pensou em criar um visual para a operação militar foi uma boa ideia", avalia o escritor e jornalista indiano Kunal Purohit.

"Acho que era importante para o governo vender bem seu ponto de vista para a população", analisa Purohit, autor de um livro sobre o "Hindutva Pop", a música que promove as ideias nacionalistas hindus.

A identidade visual da operação, que faz referência à cultura hindu, é uma forma de o governo estimular o orgulho nacionalista, "ainda maior quando a Índia está em conflito com seu mais antigo inimigo, o Paquistão", avalia.

Em meio aos combates, as autoridades indianas proibiram as vendas de bandeiras e produtos derivados com as cores do Paquistão, ordenando, inclusive, que sites de comércio eletrônico "retirassem todo o conteúdo desse tipo".

Expressar seu apoio

Uma pequena empresa online, Hank Hawk, com sede em Punjab (noroeste), também se apressou em surfar na onda.

"Recebemos muitos pedidos de informação. As pessoas estão muito interessadas", comemora seu chefe, Deepak Kumar, que garante ter recebido encomendas de todo o país.

"As pessoas precisavam expressar seu apoio ao exército indiano", confirma Arora. Usar uma camiseta representa a "melhor e mais barata maneira" de exibir suas convicções, analisa, afirmando ter recebido até mesmo encomendas de oficiais do exército indiano.

Desde que chegou ao poder em 2014, Narendra Modi "se apoiou com sucesso na cultura popular" para promover suas ideias, destaca o jornalista Kunal Purohit. "O governo e o partido no poder popularizaram deliberadamente este momento" e "todo mundo quer participar", insiste.

Isso não passou despercebido pelos vendedores do mercado de Janpath, no coração de Nova Delhi, sempre atentos às últimas tendências, que também aguardam sua entrega de roupas marcadas com "Sindoor".

"As pessoas adoram as camisetas +India+ e IPL (liga de críquete indiana), por que não gostariam destas?", observa o proprietário de um estande, que pediu anonimato, para quem "o exército também é um símbolo da Índia". "Vamos vendê-las muito em breve", garante. (AFP)

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