A moda como conexão de gerações
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Na 29a. edição do Inspiramais (dias 23 e 24 de janeiro), logo na entrada o visitante se deparava com a exposição "Intergeracional", resultante de uma das pesquisas do Núcleo de Design da Assintecal - Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos.
A exposição apresentava vários guarda-roupas que, a princípio pareciam pertencer a um único indivíduo, quando na realidade eram itens pinçados de coleções de pessoas distintas, com décadas de diferença de idade. Segundo Walter Rodrigues, coordenador do Núcleo de Design e Pesquisa da entidade, hoje, em pleno século XXI, temos cinco gerações convivendo simultaneamente. “Isso nunca aconteceu na história da humanidade”, disse ele. A exposição mostrava roupas de pessoas de todas essas cinco gerações.
Assim, peças de Yves Saint-Laurent colecionadas por Rodrigues, faziam par com itens do estilista Mateus Cardoso, que tem na alfaiataria apurada seu ponto forte. Roupas da jornalista Patrícia Pontalti, com 50 anos e sua filha Clara, de 13, lado a lado, mostravam uma moda atemporal e moderna. Edu K, ícone do rock gaúcho, da banda DeFalla, 55 anos e Anakas Rodrigues Canto, de 21 anos, músico punk não binário, dividiram o mesmo guarda-roupa, assim como a ex-parlamentar Esther Grossi, de 87 anos e Júlia Weber, de 30, designer e especialista em Economia Circular.
Unidos pelo design e pela moda
Complementando a exposição, no último dia da feira uma ação conduzida por Rodrigues colocou, frente a frente, algumas das pessoas de gerações distintas, (porém com estilos e filosofias de vida semelhantes) que emprestaram suas peças para a exposição. Assim, além de Edu K e a jovem Anakas Rodrigues Canto; Esther Grossi e Júlia Weber fizeram parte da ação.
Segundo entrevista concedida à assessoria de imprensa do Inspiramais, Edu K explicou sua conexão com a geração de Anakas. “Temos muita conexão, na moda e na filosofia de vida. Na moda, é forte a customização de roupas e o não apego a grandes marcas. Também, assim como o Anakas, me considero um anti-gênero, penso que um gênero não exclui o outro. Queremos tudo e queremos agora. Nossas roupas refletem esse estilo. Para mim, não existem roupas de homem ou de mulher. As pessoas me dizem que me visto de mulher porque uso saia. Eu não me visto de mulher, eu me visto. E só. A questão excludente é o preconceito”, conclui. Anakas, na mesma entrevista, justificou: “podemos dizer que nossas gerações se retroalimentam em um processo de reciclagem e de expansão da nossa cultura".
Etarismo e conexão entre gerações em debate
Esther, que sempre, desde parlamentar, trabalhou de forma consistente a Educação, falou da importância de quebrar o tabu do abismo entre as gerações. "Primeiro, é importante acabar com essa idéia de que velhos são muito diferentes dos jovens. Os estilos seguem, não acabam com o tempo. Desde jovem, nunca me policiei acerca de como me vestir. A sociedade criou um estilo para jovem e outro para velho, que não são reais”, explicou. Júia falou sobre o estilo de ambas: "nós criamos as nossas roupas. Eu acredito que a vestimenta não é feita somente de tecido, mas também de memória. Tudo o que usamos tem uma história por trás. Roupas são coleções de memórias”, disse, corroborado por Esther: "além de gostar de criar minhas vestimentas, com tecidos diferentes, temos semelhanças no modo com que enxergamos a vida. Penso que as roupas, os tecidos, todos trazem ideias por trás, inclusive preocupações políticas e sociais”, concluiu.
Desafio dos designers: desenvolver coleções que atendam todos
Walter Rodrigues destacou a complexidade de se desenvolver coleções de moda para esse público tão plural e multifacetado. "Temos que pensar na Geração Alfa - nascidos depois de 2012 - e na Geração Silenciosa - nascidos entre 1925 e 1942, e todas as outras que estão no meio destas pontas; no produto de moda não pode ter mais faixa etária, ele tem que ser criado livremente, para que todo mundo tenha acesso a ele, seja uma pré-adolescente de 11 anos a uma senhora de 80”, justificou.
Dentro deste contexto plural existe também um fator de escapismo na moda que, segundo Rodrigues, nos auxilia a transcender nossas angústias, vivências cotidianas, nossos problemas. “ Tudo traduzindo isso num momento de sonho, de escape, nos levando a outros mundos, com flores, brilhos, criando assim tudo o que precisamos para sermos mais otimistas, mais iluminados e continuarmos sempre em frente”, concluiu.