Moda e tecnologia: livro lança luz sobre essa realidade
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Combinadas, moda e tecnologia podem facilitar o dia a dia das pessoas. Agora, em época de pandemia muito se tem falado sobre os tecidos inteligentes, com tratamentos antimicrobianos e antivirais. Além das máscaras de proteção, relógios e óculos interativos, o avanço da tecnologia aplicada à moda pode ser observada em diversas peças como a Hug Shirt, uma espécie de jaqueta que promove a sensação de estar sendo abraçado, ou a calça Nadine, que tem a capacidade de guiar o usuário na realização de posturas corretas de ioga.
A editora Senac está lançando o livro Roupas Inteligentes: combinando moda e tecnologia, do artista e pesquisador de novas mídias e arte interativa Ricardo O’Nascimento. Pioneiro no estudo do tema no Brasil, o autor explica como funcionam os eletrônicos relacionados ao vestível, ilustrando-os com iniciativas em artes, ciências e design. A obra discute os conceitos fundamentais com linguagem acessível e também traz tutoriais abordando processos criativos e práticos.
O autor falou com exclusividade para o FashionUnited, veja a seguir:
FashionUnited: como a tecnologia vestível pode ser utilizada no pós pandemia?
A tecnologia vestível pode e deve ser utilizada para facilitar a vida. A pandemia impôs uma nova realidade em diversos níveis de nossas vidas e o uso de tecnologias tem se mostrado fundamental na adaptação a essa situação. Nas relações interpessoais a tecnologia vestível pode ser utilizada para melhorar a comunicação, adicionando o toque a distância, por exemplo, como roupas inteligentes que transmitem a sensação de abraço entre duas pessoas que estão em locais diferentes. A tecnologia vestível também pode ser usada no combate a futuras pandemias através da análise dos dados biométricos das pessoas e, com o uso de algoritmos computacionais, diagnosticar alterações na saúde da pessoa e uma possível doença. Tecnologia e roupas sempre andaram juntas e agora, com os avanços em eletrônica e materiais, novas funções podem ser incorporadas. As roupas funcionam não somente para nos proteger do frio, elas promovem interações com o meio ambiente.
A tecnologia vestível está mais ligada à performance esportiva? Por que?
Uma das características da tecnologia vestível é a proximidade com que a tecnologia está do corpo. Assim é possível colocar sensores flexíveis e detectar a posição exata de cada membro. Da mesma forma é possível colocar sensores de batimento cardíaco e saber se o grau de esforço que a pessoa que está vestindo a peça está exercendo durante sua atividade física. Essas informações sobre o corpo durante a atividade esportiva são extremamente valiosas e a tecnologia vestível pode conseguir essas informações sem precisar de cabos ligados a uma máquina ou aparelhos desconfortáveis. Esse pode ser um possível fator responsável pelo crescente uso da tecnologia vestível em esporte. Uma outra área que tem uma abordagem similar e tem sido lugar de muita inovação é a área de bem estar e saúde. Sensores flexíveis e incorporados aos tecidos podem detectar como foi a noite do paciente ou se ele se levantou da cama, por exemplo.
Há possibilidade de se fazer peças casuais com recursos inteligentes a preços acessíveis? Como?
Sim. A peça que transmite sensação de abraço que comentei anteriormente parece uma simples jaqueta. Eu tive a oportunidade de testar e, apesar de ter diversos motores de vibração embutidos, a jaqueta veste como uma jaqueta normal, os eletrônicos são pouco perceptíveis até entrarem em ação. A miniaturização dos componentes eletrônicos e materiais condutivos permitem que a tecnologia seja incorporada em peças casuais de maneira quase imperceptível. O preço ser acessível ou não é uma questão de perspectiva. Pesquisa e desenvolvimento custam caro e a tecnologia vestível envolve processos complexos e muita vezes criados especificamente para um determinado uso. É muito importante que todos os envolvidos na pesquisa e produção da peça sejam compensados de forma justa e é esperado que essa prática tenha um impacto no preço final. Mas a tecnologia vestível, apesar de soar como algo do futuro, pode ser feita de maneira simples e com materiais e equipamentos acessíveis.
Fotos: cortesia Editora Senac e Ricardo O’Nascimento