Abest lança carta aberta propondo novo calendário de moda
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A Abest - Associação Brasileira de Estilistas - divulgou em seu site e redes sociais uma carta aberta solicitando ao mercado de moda que altere o calendário devido ao atraso da produção e parada das lojas, consequência da pandemia.
Segundo a nota, o coronavírus colocou na berlinda o calendário utilizado até agora, que tem sido comandado pelo chamado fast fashion. “A chegada do COVID-19 nos fez refletir sobre um assunto que há muito está na cabeça das marcas 100 por cento brasileiras, autorais e pertencentes ao chamado slow fashion. Porque temos que seguir esse calendário, maluco, das marcas de fast fashion? Porque depois de 15 dias o que está na arara ou vitrine está velho e temos que expor e vender uma nova coleção?” diz a carta. A colocação é que as peças são feitas para durar e questiona inclusive as liquidações, que têm se iniciado no começo do inverno, já em julho.
A entidade propõe a seguir um novo calendário, com vendas no atacado, de verão, da segunda quinzena de junho até 10 de julho e o inverno a partir da segunda quinzena de novembro. No varejo a proposta é liquidação de inverno em agosto de 2020 e liquidação de verão em fevereiro de 20201. Após esse período a sugestão é que as vendas de atacado de verão aconteçam a partir de maio de 2021 e a de inverno a partir de novembro de 2021. Liquidações continuariam a ser em agosto e fevereiro.
Para Tathiana Ventre, estilista e proprietária da Missinclof, marca feminina associada à Abest, as vendas no atacado em junho seriam ainda um pouco prematuras. “As oficinas com as quais costumo trabalhar estão todas fechadas, eu estava em meio à produção de peças piloto e mostruário, não será viável estar com o showroom pronto até 10 de julho, “diz a profissional, acrescentando que essas oficinas trabalham para outras confecções também. “Pensamos até em fazer um showroom em julho, virtual, porque não sei se as pessoas vão querer sair de suas cidades e vir a São Paulo, se estarão se sentindo seguras para viajar,”conclui.
Para o estilista Marcio Akamine, da Marui Akamine o que vai nortear as marcas são os clientes. “Deveríamos voltar ao que era antes, estar no extremo inverno lançando o verão,”diz. A grande questão, segundo ele, será sempre a financeira. “Compramos tecido, aviamentos, tudo antes para produzir e vender e quanto maior o espaço entre as temporadas, mais fôlego as marcas terão, especialmente as menores,”fala. “Tudo ainda está incerto e o mercado terá que se reinventar,”conclui.
O diretor criativo e coordenador do núcleo de design do Inspiramais, Walter Rodrigues concorda com o adiamento do calendário. “A moda toda estava já há muito tempo voltada para as mesmas datas do fast fashion e a ideia de fazer liquidações enquanto a estação ainda está vigorando destrói o mercado,”explica. “O momento é de se repensar tudo e acho muito importante a Abest, como entidade, se posicionar assim, “reflete.
Foto: Paolo Chiabrando/Unsplash