Adidas, Reebok e Patagonia são as empresas de moda mais transparentes do mundo
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Adidas, Reebok e Patagonia lideram o ranking de marcas de moda mais transparentes do mundo, publicado anualmente pela ONG internacional Fashion Revolution, a qual pretende inspirar a indústria a diminuir seu impacto social e ambiental. Cada uma das três empresas fez 64 por cento de 250 pontos possíveis.
Esta é a primeira vez que qualquer empresa passa dos 60 por cento na história do estudo, que já é publicado há seis anos. Em 2017, por exemplo, todas as marcas analisadas ficaram abaixo dos 50 por cento, o que demonstra que a indústria da moda tem avançado no quesito transparência, provavelmente em reação ao crescente número de consumidores que deseja saber mais sobre o impacto ambiental e social dos produtos que consomem.
Em uma pesquisa recente com 5 mil consumidores europeus, conduzida pela Fashion Revolution em parceria com o instituto Ipsos Mori, 80 por cento dos entrevistados concordaram com a afirmação de que as marcas de roupas devem tornar pública a lista de fornecedores com os quais trabalham.
“Essas marcas publicam um escopo bem amplo de dados e políticas ambientais e de direitos humanos, além de informações sobre como seus negócios são conduzidos, quem são os seus fornecedores e o impacto de suas práticas de sustentabilidade”, disse a Fashion Revolution sobre as três empresas no topo do ranking. “Transparência não é só compartilhar as boas histórias ou só falar dos fornecedores que fazem um bom trabalho. É apresentar o panorama geral”, explicou a organização.
Este ano, a Fashion Revolution analisou 200 empresas globais de moda, todas com um faturamento superior a 500 milhões de dólares (aproximadamente 1,9 bilhão de reais). Embora a nota média tirada pelas empresas seja baixa (21 por cento), ela é maior do que nos anos anteriores. Diversas marcas passaram a publicar dados sobre seu impacto social e ambiental pela primeira vez no ano passado, incluindo Chanel e Dior.
Fornecedores
O número de empresas que divulgam sua lista de fornecedores está aumentando: no relatório de 2019, 70 das 200 empresas analisadas revelam seus fornecedores diretos. Em 2018, foram apenas 55 e, em 2017, 32. É menos comum, no entanto, que as empresas de moda revelem onde são dados os toques finais em suas roupas, tais como bordados, estamparia, tingimentos e lavagens. Apenas 38 das 200 marcas publicaram esse tipo de informação no ano passado, 11 a mais do que no ranking anterior. Houve também um aumento significativo no número de empresas publicando dados sobre seus fornecedores de fibras e materiais brutos: 10 empresas passaram a fazer isso, nove a mais do que em 2018.
Emissões de gases causadores do efeito estufa
De acordo com a Fashion Revolution, ainda há muito que as empresas de moda precisam fazer para se tornar mais transparentes em relação às suas emissões de gás carbônico. Embora 55 por cento das empresas verificadas este ano publiquem as emissões relativas aos seus próprios escritórios e fábricas, a maioria delas (79 por cento) não diz uma palavra sequer sobre as emissões de seus fornecedores, onde ocorrem mais de 50 por cento de todas emissões na indústria da moda, de acordo com a consultoria de sustentabilidade Quantis.
Foto: Women workers in a garment factory in Cambodia. © 2014 Samer Muscati/Human Rights Watch; Source: Human Rights Watch website, Creative Commons license.
Igualdade de gênero
Muitas marcas de moda têm feito campanhas em prol da igualdade de gênero e do empoderamento feminino. No entanto, o relatório da Fashion Revolution revela que muitas vezes isso não passa de conversa fiada: das 200 empresas analisadas este ano, apenas 37 por cento coordena ou financia projectos relativos à igualdade de gênero, uma queda de 3 por cento em relação ao ano anterior. Embora 37 por cento das marcas possuam uma política de igualdade de gênero, a qual publicam em seus canais oficiais, só 33 por cento delas revela a disparidade de salários dentro da companhia. Além disso, menos de 2 por cento das marcas verificadas publica qualquer dado sobre discriminação ou violência de gênero nas empresas com quem trabalham ao redor do mundo.
“Considerando que a indústria da moda emprega milhões de mulheres, as marcas têm a obrigação de divulgar mais informações sobre o que estão fazendo para diminuir a desigualdade de gênero”, declara a Fashion Revolution em seu relatório. A organização estima que mulheres formem entre 70 e 80 por cento dos trabalhadores da indústria da moda, desde a fábrica até as lojas.
Materiais sustentáveis
Nos últimos meses, parece que todas as grandes marcas de vestuário e acessórios lançaram produtos ou coleções com poliéster feito a partir da reciclagem de garrafas plásticas: Adidas, Puma, C&A… A lista é longa. Geralmente, tais lançamentos são acompanhados da promessa de aumentar o uso de materiais mais sustentáveis, como algodão orgânico e lyocell, no futuro. Embora tais mudanças sejam positivas, o relatório demonstra que ainda há um longo caminho pela frente: 43 por cento das empresas analisadas possui uma estratégia para o aumento do uso de materiais sustentáveis, mas apenas 29 por cento delas divulga a quantidade utilizada desses materiais atualmente.
Direitos humanos e salários dignos
As empresas de moda parecem mais interessadas em questões ambientais do que em questões sociais. O relatório da Fashion Revolution aponta que 54 por cento das 200 maiores empresas de moda do mundo possui uma política de diminuição de seu impacto ambiental. Entretanto, só 40 por cento das empresas divulga diretrizes semelhantes no que se refere aos direitos humanos.
Quando grandes marcas pressionam fornecedores de países como Índia, Vietnã e Bangladesh a fabricar roupas por preços cada vez menores, elas estão alimentando o ciclo de exploração que faz com que milhões de pessoas trabalhem em condições de pouca segurança por salários que não são suficientes para satisfazer suas necessidades básicas. De acordo com o Índice de Transparência 2019, apenas 3 por cento das 200 marcas de moda analisadas divulgam um método para calcular os custos com funcionários em seu processo de negociação de preços junto a fornecedores internacionais.
Fotos: Adidas Facebook, divulgação H&M, Pexels, Everlane Facebook, divulgação Clean Clothes Campaign.