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Atelier Chilaze redireciona verbas para produtores artesanais

By Marta De Divitiis

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Moda

Grife carioca de acessórios conscientes, o Atelier Chilaze, desdobramento de um negócio familiar que já dura 73 anos, direcionou parte de suas reservas financeiras para manter ativos os pequenos produtores artesanais parceiros da marca. A diretora de estilo Claudia Chilaze explica: “à parte de tudo o que produzimos internamente em nossa fábrica contamos com várias cooperativas de cestaria, marcenaria e outros componentes em matéria-prima sustentável, no interior do Rio de Janeiro, Ceará e Bahia. Como são pequenos artesãos e dependem do trabalho decidimos manter nossas encomendas, mesmo com uma queda de 75 por cento nas vendas, porque acreditamos que devemos estar unidos. O COVID-19 vai passar e é tudo uma questão de sobrevivência deles e nossa também, pois demoramos anos para montar nossa cadeia produtiva”.

Nesses três meses de interrupção do comércio não essencial a marca não demitiu ninguém e, de acordo com Sandra Chilaze, diretora comercial, estocou os componentes pensando não somente na loja matriz, na histórica região do Saara no centro do Rio de Janeiro, mas na loja conceito que vão inaugurar em Ipanema, bairro nobre carioca. A loja está pronta desde março aguardando apenas a abertura gradual que se seguirá. “Refizemos nosso planejamento financeiro redirecionando as verbas. Como nosso produto é autoral e atemporal, essa estratégia visa estimular nossos parceiros (a marca chegou a receber de uma artesã o dobro de peças solicitadas inicialmente), mesmo nesse momento de estagnação,”justifica.

Vendas via redes sociais e entregas pelos correios

A pandemia surpreendeu as sócias e irmãs justamente num período em que estava programada uma expansão, com a abertura da nova loja. A solução encontrada foi intensificar as vendas online. Assim reforçaram os canais diretos com os clientes de atacado e de varejo, por WhatsApp e no Instagram e entregas via correios. Ao mesmo tempo colocaram em andamento o projeto de e-commerce, inicialmente previsto para 2021 e que agora será inaugurado provavelmente em agosto, de acordo com Sandra, em entrevista cedida ao FashionUnited.

Mesmo com estes artifícios como consequência da pandemia houve a queda das vendas de acessórios, mas ao mesmo tempo subiram as vendas de cestaria utilizada na decoração. Assim, entre perdas e ganhos o registro total foi de 75 por cento de diminuição de vendas. Mas mesmo assim as irmãs se empenham em manter ativo todo o negócio, inclusive com a proteção de seus fornecedores e a abertura da loja conceito.

Coleções sustentáveis com DNA carioca

O reaproveitamento de resíduos somado à produção manual de resina e desenvolvimento de criações com matéria-prima orgânica como bambu, madeira, palha, linha com tingimento natural e corda de garrafas pet resultam em coleções de acessórios grandes e coloridos, trazendo à tona o Lifestyle carioca. São colares, pulseiras, brincos e clutches além de bolsas. “Lançamos de 15 a 20 peças por modelo, sem levar em conta a variação de cores e, a cada coleção nos apropriamos de algum elemento novo como cipó, palha, alumínio somados à resina e cordas de garrafas pet, essas duas uma constante,”explica Claudia. A designer diz também que há a linha específica para casa e itens de coleções anteriores que são campeões de venda e vão permanecendo em linha sofrendo apenas a atualização das cores e texturas.

Sobre o momento presente, que coincidiu com o lançamento de coleção, Sandra diz: ”é hora de darmos as mãos de verdade; temos que usar esse período positivamente para mudar, antes de tudo, nós mesmo, nos reeducando numa batalha interior e exterior por um planeta viável”. Claudia complementa: "Tenho amadurecido um pensamento do líder indigenista e ativista ecológico Ailton Krenak – autor do livro "Ideias para adiar o fim do mundo" (Companhia das Letras) - uma sumidade. Em sua sabedoria, aos 66 anos, não serão as pessoas que farão a diferença individualmente, porque agora somos uma força planetária atuando de maneira predatória. É o que estamos vivendo agora. Precisando mais que nunca unir os corações em ações amplificadas para superar esse vírus e outras mazelas que estão por vir. Precisamos pensar de forma benéfica, tirando proveito da emergência. É saudável.,” justifica.

73 anos de história e paixão pela moda

Tudo começou com o imigrante Salim Chilaze que chegou ao Brasil vindo de Aleppo na Síria no início do século XX. Inicialmente se estabeleceu em Manaus, AM e em Salvador, BA, até se fixar no Rio de Janeiro, onde conheceu a esposa, descendente de armênios. Em 1946 abriu a loja que hoje é o Atelier Chilaze e que está nas mãos de suas netas Claudia e Sandra, filhas de Anis, seu filho mais velho que hoje, aos 90 anos, ainda trabalha na loja e estúdio.

Por volta de 1947 os irmãos Chilaze (Salim trouxe dois de seus irmãos da Síria que passaram a trabalhar com ele) vendiam roupas de cama, mesa e banho além de bijuterias finas. Entre 1948 e 1950 começaram a importar pérolas e cristais da Tchecoslováquia, além de outros itens da Alemanha e Japão. Aos poucos o segmento de acessórios de moda foi se firmando e passaram a vender para os grandes magazines. Na década de 60 o setor cresceu mais ainda e a loja foi transformada em atacadista.

No decorrer do tempo os tios de Claudia e Sandra se afastaram do negócio e hoje as irmãs seguem dirigindo a empresa. Quando um dos fornecedores parou de vender no atacado, a diretoria da empresa resolveu produzir internamente as peças. Foi quando emergiu as criações em resina, sucesso absoluto da grife. Hoje além dela trabalham com materiais sustentáveis, inclusive o papel kraft proveniente de rolos de papel higiênico, que se transformam em criações já apresentadas e vendidas na Europa, na loja de departamentos francesa Le Bon Marché.

Fotos: Alan Miguel Gonçalves/Direção Criativa e Styling: Alexandre Schnabl (Scena Lúdica)/Beleza: João Paulo Rodrigues

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