Augusto Paz - moda autoral se divide entre festa e o universo corporativo

Quem vê a figura jovem de Augusto Paz, que hoje se dedica à moda sob medida, não tem noção de toda a bagagem profissional do designer. Além de ter se formado como modelista industrial pelo Senai, e em Têxtil e Moda pela USP Leste, Paz já atuou como jornalista de moda do blog Closet Online, no mercado de marketing e na área comercial de uma empresa de tecnologia.

Informações de moda e de tecnologia se mesclam a uma paixão pela Arquitetura, que se refletem no seu trabalho como estilista. Com um atelier no edifício Horsa I no Conjunto Nacional, ele recebe clientes que hoje se dividem entre noivas modernas e mulheres executivas em busca de peças que as destaquem dentro do universo corporativo. E foi nesse edifício icônico, de 1958, que ele recebeu o FashionUnited para falar sobre sua marca.

Crochê como ponto de partida

No início da pandemia, ainda na área comercial, após uma crise da Síndrome de Burnout (que Paz abrasileira para piripaque), ele recomeçou a fazer crochê, aprendido ainda quando criança, com sua avó, exímia crocheteira. A primeira peça confeccionada neste período foi uma malha de gola alta e detalhes nas mangas, para um amigo que estava de mudança para a Ucrânia. Os demais amigos gostaram, foram fazendo pedidos e assim a marca começou. Durante o período de isolamento, já tendo desistido do trabalho anterior, as pessoas o procuravam para que fizesse tops (devido à inundação de Lives no Instagram e reuniões online).

Após alguns “drops"de peças em crochê, ele partiu para a costura em tecidos planos. “Hoje posso dizer que minha marca está mais formatada. No início fiz alguns modelos com pequenas tiragens, mas não me adaptei. Aliás, tenho medo de estoques”, confessa. Assim se inseriu na costura sob medida. “Leio jornais e tenho plena convicção que o mundo não precisa de mais uma roupa”, diz. Usa tecidos nobres, inclusive nos forros e faz dos zíperes aparentes uma de suas características.

Demanda sazonal

Trabalhando com peças sob medida, a moda festa, especialmente as noivas e noivos (a moda masculina não está descartada na marca, predominantemente feminina) é uma consequência. Este estilo de roupa tem uma demanda mais concentrada no segundo semestre, mas o profissional destaca que este ano, houve um resgate dos luxuosos bailes de Carnaval e, com ele, os vestidos de festa, tornando o primeiro trimestre do ano bastante produtivo.

Além das roupas de festa, muitas profissionais o procuram para dar um “up"no closet corporativo. E o resultado são calças de alfaiataria, com pregas macho na frente gerando uma amplidão confortável, assim como paletós curtos e macacões, todos com detalhes que nos remetem muitas vezes às linhas arquitetônicas.

Mão de obra escassa

Quando ainda trabalhava somente com o crochê, esbarrou na questão da falta de mão de obra qualificada. Geralmente as mulheres especializadas em crochê o fazem como complemento de renda, com dificuldades de produzir em escala ou cumprir prazos. Hoje o ateliê trabalha com apenas uma especialista em crochê (“que tem um excelente olhar para a modelagem”, diz), um modelista piloteiro e duas confecções para a produção em tecidos planos. Ambas as confecções aceitaram trabalhar para ele como se fizessem pilotagens de suas peças, uma vez que são únicas. “Já encontrei costureiras de bairros muito boas, mas para elas é mais rentável as pequenas reformas de roupas prontas, barras e zíperes,”explica.

Processo de trabalho

Da idéia ao produto acabado, o processo todo leva, no mínimo, 3 meses para ser executado. Noivas costumam demorar aproximadamente um ano. “Antes de tudo faço uma reunião de briefing com o cliente onde ele me fala um pouco sobre ele, o que gosta, quais suas expectativas”, diz. A partir daí Paz faz um projeto detalhando o que foi solicitado, as referências recolhidas e opções de 3 desenhos. Em nova reunião o cliente escolhe um dos desenhos e o designer parte para o desenvolvimento de uma tela, antes de cortar o tecido final escolhido. “Todos os meus feedbacks têm sido incríveis”, exulta.

Experiência imersiva na arquitetura e moda

“Quero que meus clientes comecem sua experiência já ao sair do carro, em frente ao Conjunto Nacional. Escolhi esse ponto onde estou há um ano em meio (a marca tem 3 anos) pois sempre foi meu sonho trabalhar aqui," justifica. O espaço fica numa área central, num edifício histórico, com lojas, cafés e livrarias (ele lamenta o fechamento da Livraria Cultura, que ficava no térreo e que já abrigou um cinema). A vista do ateliê é maravilhosa, com o skyline da cidade, especialmente ao final do dia, quando o por do sol pode ser contemplado pela ampla janela. No ateliê, pequeno e aconchegante, com mobiliário planejado, os clientes ficam à vontade para experimentar as peças, conversar, tomar café. Nesse universo em que tudo é rápido, intenso e tecnológico o ateliê é um respiro de criatividade e calma.