Brasileira PhycoLabs vence Global Change Award 2023
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Foto: cortesia Global Change Award
A PhycoLabs, uma startup de biotech, foi uma das 10 empresas que venceram o Global Change Award 2023, promovido pela H&M Foundation. A fundação, sem fins lucrativos, seleciona e apoia inovações impactantes buscando um futuro mais sustentável para a moda e o planeta. Os dez vencedores dividirão o prêmio de 2 milhões de Euros para acelerar o desenvolvimento das soluções inovadoras.
"Temos uma oportunidade urgente de apoiar inovações que podem transformar toda a indústria da moda. Estamos dando a esses visionários um total de 2 milhões de euros e acesso ao nosso programa acelerador - mas também estamos dando à indústria a oportunidade de se conectar com essas mentes brilhantes. Estou animado para ver o impacto que essas empresas causarão na indústria,” fala Karl-Johan Persson, membro do conselho da H&M Foundation e presidente do H&M Group, no release de divulgação (aqui em tradução livre).
No último dia 8 de junho, a empreendedora e fundadora da startup, Thamires Pontes, representou o Brasil na final do GCA, na Suécia. Além do reconhecimento, a startup ganhou uma bolsa no valor de 200 mil euros, o equivalente a 1 milhão de reais, para receber treinamento e suporte personalizado para acelerar o negócio pela GCA Impact Accelerator, ao lado dos parceiros KTH Royal Institute of Technology, em Estocolmo (Suécia) e The Mills Fabrica, em Hong Kong.
O valor será totalmente investido para colocar o produto no mercado. Ao longo de um ano, a startup*,* que está em estágio inicial, será acelerada e acompanhada de perto. A empreendedora comemora o prêmio internacional como a única empresa vencedora da América Latina e do Brasil. Ao lado dela, iniciativas dos Estados Unidos, Canada, India, Kenia e Reino Unidos também foram premiados. Confira abaixo a entrevista que Thamires Pontes concedeu com exclusividade ao FashionUnited.
Foto: cortesia PhycoLabs
FashionUnited: fale sobre sua formação e trajetória profissional.
Venho de uma cidade nostálgica e colorida, João Pessoa (Paraíba) onde nasci e me criei. Aos 18 anos fui para Recife (Pernambuco) estudar moda na Faculdade Boa Viagem e, logo após, me mudei para São Paulo, para encontrar mais oportunidades na minha área de trabalho. Me encontrei verdadeiramente no Mestrado Têxtil e Moda na USP - Universidade de São Paulo. Foi lá que descobri que não queria mais ser da Moda e sim da Ciência. Trabalho na Indústria Têxtil há dez anos, principalmente na importação de tecidos, pesquisa de tendências, estampas e novos materiais. Foi pelos novos materiais e suas possibilidades que eu me apaixonei. Após a pandemia me foquei em aperfeiçoar as fibras de algas. Foi quando descobri que precisava empreender se eu quisesse encontrar financiamento e melhorar a tecnologia pensando na escala para a indústria têxtil.
Quais os produtos que a empresa produz?
Hoje o nosso principal produto é a fibra PhycoFiber, mas temos outros no nosso roteiro. Mas nesse momento e, principalmente após ganhar esse prêmio, nossos esforços são para inserir no mercado o nosso MVP - Minimum Viable Product - o mais rápido possível.
Foto: cortesia PhycoLabs
Como aconteceu a inscrição no Prêmio Global Change?
A H&M Foundation tem se destacado em investimentos para novas soluções na moda e eu acompanho o prêmio já há alguns anos. Tentei algumas vezes e, no ano passado ficamos entre os 20 finalistas. Mas este ano, depois de muito trabalho, amadurecimento e resiliência, nós conseguimos vencer.
O que significa para a PhycoLabs ser um dos 10 vencedores?
Posso parecer meio “emocionada”, mas ter a PhycoLabs como uma das vencedoras é para mim a realização de um sonho. Para a Phyco é um divisor de águas, ou melhor, de algas (rs). Agora fazemos parte de uma lista de startups que estão pensando/moldando o futuro dos têxteis para a indústria da moda global. A semana que estivemos em Estocolmo, com a equipe da H&M Foundation, KTH Innovation, Accenture e The Mills Fabrica foi incrível e isso é apenas o começo. Temos um ano pela frente, de aprendizado com os programas de aceleração.
É possível desenvolver tecidos em larga escala a partir das algas marinhas?
Esse é o motivo pelo qual a PhycoLabs existe. Vamos provar que é possível usar as algas marinhas para substituir os tecidos tradicionais de forma eco-consciente. Não adianta pensarmos em uma mudança sistêmica na indústria da moda sem pensar em toda a cadeia de valor, do cultivo da matéria-prima ao produto final. Acreditamos que é possível transformar a indústria têxtil substituindo os materiais convencionais por soluções sustentáveis. Vamos impulsionar a transição para um futuro mais regenerável por meio do uso de algas marinhas. A natureza nos fornece soluções valiosas e nosso dever é aproveitar esses recursos de forma responsável.
Quais os próximos passos a partir de agora?
Voltamos da viagem inspirados e com certeza que temos muito trabalho a fazer. Grandes conquistas vêm acompanhadas de grandes responsabilidades. Vamos colocar em prática o que nos comprometemos com o programa para os próximos anos como novas contratações, apoio ao fomento da cadeia de algas no Brasil, melhoramento do nosso P&D - Pesquisa e Desenvolvimento - atualizar nosso modelo de negócios, e por aí vai… Muito em breve teremos novidades da Phyco. Stay tunned!
Foto: cortesia PhycoLabs
Como se dá a sustentabilidade na PhycoLabs?
Para mim, em pleno 2023, fundar uma startup ou empresa sem pensar em um conceito sustentável ambientalmente e financeiramente não faz sentido algum. A PhycoLabs já nasceu a partir de uma inquietação/frustração que eu tinha com os principais players da indústria da moda. Nosso setor é um dos mais poluentes. A transição para uma economia circular e sustentável é a única alternativa para reduzir as atuais pressões sobre os recursos naturais. A natureza é a maior fonte e inspiração de soluções para uma moda sustentável. O objetivo da PhycoLabs é repensar toda a cadeia de valor da moda, desde as fontes de materiais, suprimentos, melhorar nosso gerenciamento de resíduos redesenhar os materiais e produtos
A Phycolabs nasceu formalmente em 2022 após Thamires Pontes participar da iniciativa do Catalisa ICT, liderada pelo Sebrae, em parceria com players do ecossistema de inovação, para fomentar negócios de base tecnológica. A partir de pesquisas realizadas durante o mestrado, ao lado do professor da USP, Hélio Wiebeck, Thamires desenvolveu uma fibra têxtil biodegradável a partir do hidrocoloide presente em algas marinhas vermelhas.