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Centenário de Zuzu Angel coloca em pauta a moda como expressão política

By Marta De Divitiis

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Moda

Dia 5 de junho de 1921 nascia em Curvelo, Minas Gerais, Zuleika de Souza Neto, mais conhecida como Zuzu Angel. Estilista, foi pioneira no uso de rendas, bordados, tecidos, estampas com referências brasileiras, quando todos os demais copiavam as tendências européias. Mais que uma estilista (costureira, como ela se auto intitulava), foi uma ativista que usou a moda para divulgar os horrores da ditadura militar no Brasil e seu calvário pessoal, em busca do corpo do filho assassinado.

Zuzu foi a primeira a usar referências do país em suas criações. Estampas floridas, que nos remetiam à chita, rendas brasileiras e bordados com pedras mineiras detalhavam as peças. Inspirou-se no cangaço, em Carmen Miranda e outras figuras icônicas. As estampas de anjinhos, fazendo referência ao seu nome são uma de suas características.

Suas roupas, usadas por nomes do cinema americano, como Kim Novak e Joan Crawford, foram parar nas vitrines e araras de lojas como Bergdorf Goodman; Saks, Norman & Taylor e Neiman Marcus. Segundo Zuzu, em duas ocasiões o italiano Valentino usou rendas inspirando-se em suas criações.

De acordo com matéria do jornal Estado de Minas, em entrevista ao jornal New York Times declarou que para ela, moda era comunicação e não futilidade como diziam. “Moda é comunicação, além de garantir emprego para muita gente,”completou na ocasião.

Moda como bandeira política

Casada com o americano Norman Angel Jones, com quem teve três filhos (Stuart, Hildegard e Ana Cristina), teve sua vida impactada quando Stuart, desaparecido em maio de 1971, foi assassinado pelo regime ditatorial. Buscando o corpo do filho, nunca encontrado, ela usou a moda como forma de se expressar.

Em 1971 fez um desfile-protesto em Nova Iorque, na casa do cônsul brasileiro. Na coleção, bordados de canhões, tanques de guerra, sóis quadrados, em meio a anjos tristes, casinhas e flores. Ao entrar para agradecer os aplausos, veio vestida de preto, em sinal de luto, com um cinto com crucifixos.

Sua tenacidade na busca pelo corpo do filho provocou a ira dos donos do poder. Numa madrugada de abril de 1976, seu carro foi fechado na saída de um túnel no Rio de Janeiro, caindo de uma altura de 10 metros. Divulgado como acidente na época, suas duas filhas conseguiram, 22 anos depois, que o governo brasileiro assumisse sua morte como crime político.

A música Angélica, de Chico Buarque de Hollanda, foi escrita em sua homenagem, assim como o desfile que Ronaldo Fraga realizou em 2001 denominado “Quem matou Zuzu Angel”, no SPFW - São Paulo Fashion Week. Em 2020 Fraga retornou ao tema com a coleção “Zuzu Vive”. Além disso, sua história foi contada no filme “Zuzu Angel”, de Sérgio Rezende (2006) e foi tema de programa televisivo e livros.

Fotos: cortesia Instituto Zuzu Angel, Naty Torres

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