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Empresa italiana produz roupa a partir de leite fora da validade

By Gislene Trindade

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Moda

A companhia italiana Duedilatte criou uma alternativa sustentável para a confecção de roupas: tecidos feitos a partir de leite vencido. Além de reaproveitar um produto que seria descartado, a produção de tecido a partir de leite também utiliza bem menos água do que os tecidos que dominam o mercado hoje. Enquanto a produção de 1 quilo de tecido de leite requer 1 litro de água, para fabricar a mesma quantidade de tecido de algodão seria preciso 50 litros de água.

A indústria da moda está entre os setores mais poluentes do mundo, sendo responsável por 20 por cento da água residual do planeta e 10 por cento das emissões globais de carbono, mais do que a soma dos voos internacionais e transportes marítimos combinados, de acordo com a ONU.

A FashionUnited conversou com Antonella Bellina, CEO e fundadora da Duedilatte, para saber mais sobre a marca e seu trabalho. Belinna tem mais de 16 anos de experiência como pesquisadora na indústria têxtil, desenvolvendo tecido a partir de fibras naturais há 10 anos.

Conte-nos um pouco sobre a história da Duedilatte. Como tudo começou?

Nos anos 1930 um engenheiro italiano inventou a primeira fibra feita a partir do leite dedicado à alimentação, mas o material resultante do processo era muito cru e por isso era usado apenas para o preenchimento de uniformes de soldados. Embora isso tenha me inspirado, a ideia para a marca só surgiu mesmo quando tive uma epifania certa manhã, ao perceber que o prazo de validade do leite em minha geladeira havia expirado. Pensei: “Por que não usar os recursos da bioengenharia para produzir fibra a partir de leite vencido?”. Foi assim que nasceu a Duedilatte, cinco anos atrás.

Como é o processo de produção de fibra a partir do leite fora do prazo de validade?

Aqui na Itália existem centros de coleta que doam o leite azedo. Basicamente pagamos pelo transporte e todo o procedimento que acontece em nosso laboratório. O processo é bem parecido com o de produção de queijo. Extraímos a caseína, que é a principal proteína do leite, e trabalhamos com ela separadamente. O soro que resta é utilizado na fazenda para os animais, nada é jogado fora.

Com a caseína separada, secamos a substância, até que ela se transforme em pó. Esse pó é colocado em uma máquina parecida com a que faz algodão doce. O algodão, no caso, é o que vai ser transformado em fibra. E por mais que a cor natural seja branca, nem todas as nossas peças são claras, nós também pintamos os tecidos, sempre com ingredientes naturais, como morango ou café.

Como o mercado e o consumidor final receberam seu produto?

Embora a indústria têxtil daqui da Toscana seja bem expressiva, a entrada no setor foi difícil. Tive que pesquisar muito até encontrar a Spinning Factory e a Fabric Factory, duas empresas que além de acreditar no meu projeto, tinham a aparelhagem necessária para produzi-lo. Ainda hoje somos uma empresa pequena, mas estamos industrializando nosso produto.

Os três primeiros anos da empresa foram voltados para estudos em laboratório. Somente do ano passado para cá que o mercado parece ter entendido o que é fibra de leite e que as peças são hipoalérgênicas, antibactericidas, mais macias para pele, elas inclusive hidratam a pele, além de serem 100 por cento naturais.

Quando o mercado passou a entender, aumentamos a produção. Hoje estamos começando um projeto com uma grande marca italiana, inclusive. Em breve revelaremos mais detalhes.

Que tipo de roupas sua empresa produz e onde podem ser encontradas?

Decidimos produzir t-shirts inicialmente, por serem unisex. Escolhemos esse tipo de peça porque elas ficam, de fato, em contato com a pele, assim as pessoas podem sentir o tecido. Agora estamos expandindo para a produção de roupas para bebês, pois acreditamos que as propriedades do nosso material trazem a combinação ideal para a pele de bebê.

Por enquanto, nossas peças são vendidas em boutiques na Itália, mas pensamos em expandir para o resto da Europa e outros países também. Inclusive, acho que, em termos de clima, seria algo bem interessante para o mercado brasileiro.

Quais são os planos da Duedilatte para o futuro?

Planejamos aumentar não apenas a produção, mas também a variedade de produtos. Mas a pesquisa nunca parou, nossa ideia é continuar criando novas misturas e novos tecidos. Queremos nos tornar fornecedores de marcas que tenham presença expressiva.

Foto: Divulgação/Duedilatte

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