Lourrani Baas: a moda como ferramenta de transformação
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Foto: Ru Figueredo
Nascida em Sapeaçu (BA), no Recôncavo Baiano, Lourrani Baas iniciou sua luta contra a gordofobia na adolescência, quando os desafios para encontrar peças no seu manequim se tornaram frequentes. Diante disso, passou a utilizar a moda como ferramenta transformadora, pensando em fortalecer a beleza dos corpos reais.
Em Salvador, onde se mudou aos 17 anos para estudar (é formada em Comunicação Social/Publicidade e Propaganda e em Moda), trabalhou com práticas de impacto social no terceiro setor. Em 2015 entrou para o movimento feminista e logo percebeu a possibilidade de trabalhar com moda, um grande sonho, anteriormente inalcançável, para uma menina gorda e negra do interior da Bahia.
Ao fazer a faculdade de moda se interessou pela sustentabilidade e uniu a paixão por moda com a pluralidade e herança ancestral, liberdade, feminismo e inclusão social. Acreditando que vestir-se é um ato de sensibilidade e humanidade e para vencer os padrões, lançou sua marca homônima, onde trabalha com tecido plano e slow fashion.
Foto: cortesia Lourrani Baas
Marca homônima usa resíduos e moulage
Ao ser inquirida sobre qual seu público alvo, Lourrani responde: "trabalho para mulheres brasileiras. Como iniciei minha jornada frente ao ativismo na luta contra a gordofobia, a presença de mulheres gordas sempre será forte na minha jornada e foi por este motivo que escolhi este lançamento (Coleção Cápsula 100 Anos de Brasil, apresentada em fashion film na Casa de Criadores) com este público. Veja o filme aqui . Entretanto, produzimos do 38 ao 56, e sob medida. E também criaremos algumas peças exclusivas para o público masculino. Apesar de depender da captação de resíduos, o número de coleções varia, mas pretendemos trabalhar com 2 coleções anuais e lançamento de drops sazonais. A quantidade de peças depende muito do resíduo em estoque para tal objetivo. Mas sempre que possível, trabalhamos com o mínimo de 13 peças”, explica.
Foto: Ru Figueredo
Liga Transforma combate a degradação
O projeto nasceu em 2018, enquanto estava na faculdade, com a proposta de formar uma rede de fortalecimento e afirmação entre mulheres. Atuando nos pilares do protagonismo e empreendedorismo feminino, o trabalho foi iniciado com ações, oficinas e palestras gratuitas onde eram compartilhadas vivências e experiências. Hoje a Liga emprega 5 pessoas.
Assim o Liga Transforma desenvolveu um método de reaproveitamento de resíduo têxtil, onde retalhos e tecidos com avarias são transformados em novos tecidos."Desenvolvemos um método único de beneficiamento do resíduo, e nele, a criação de espelhos - patchwork (manuais e digitais) para formatação do design sustentável das peças. Particularmente, a minha assinatura na criação dos tecidos acontece de forma bem estratégica, e considerando tendência e informação de moda. Priorizo o acabamento e a criação, de forma que ao primeiro olhar, o público não identifica que são retalhos, um diferencial para a moda sustentável. Costumo brincar que os tecidos da Liga são sensoriais e de valor comercial, com um trabalho tão fantástico, que só sentindo para entender”, diz.
Prêmio Fashion Futures do Instituto C&A
Lourrani Baas e a Liga Transforma ganharam o prêmio do Instituto C&A - Fashion Futures como o futuro da moda na categoria Design Sustentável e integram o grupo de 22 marcas escolhidas pela Elle Brasil para a segunda edição do #MovimentoElle, que reúne marcas notáveis para a regeneração e sustentabilidade na moda. Participaram da 9ª edição dos Novos Designers da Shop2gether, criando uma coleção 100 por cento circular com o resíduo têxtil gerado pelas marcas de designers participantes. Em 2022, assinou o stand de performance e sustentabilidade, a convite do Sebrae nacional, na Febratex – maior feira da indústria têxtil na América Latina.
“Ganhar o prêmio foi um divisor de águas. A partir do Fashion Futures, foi possível fortalecer a modelagem do negócio e avançar no design sustentável dos produtos”, diz a designer com exclusividade para o FashionUnited.