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NFTs ampliam espaço no universo fashion

By Marta De Divitiis

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Moda

Tokens não fungíveis (NFT) têm sido bastante discutidos e presentes no universo da moda - já estiveram na Gucci e a Nike recentemente ingressou no mercado com um tênis virtual. A Havaianas fez um leilão virtual dia 12 de maio de NFTs da sandália em colaboração com o artista plástico Adhemas Batista. O professor Leonardo Marques, do Coppead/UFRJ - Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, especialista em moda, varejo, logística e tecnologia, falou com exclusividade ao FashionUnited a respeito de NFTs e o universo virtual. Leia seguir.

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FashionUnited: como vê o desenvolvimento de NFTs na Moda, como tênis Nike, a coleção da Gucci e as sandálias Havaianas?

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O NFT tem seu início nas Artes, logo a expansão para a Moda é um caminho natural. Como o NFT permite garantir autenticidade para a Arte digital, na medida que a Moda entra cada vez mais na esfera digital, vai ao encontro com a tendência do NFT.

O início da Moda no ambiente digital estava restrito ao e-commerce, mas agora a Moda começa uma vertente verdadeiramente digital, como roupas digitais usadas por alguém fazendo um post no Instagram. Neste sentido, para uma marca de Moda que queira conferir exclusividade aos seus produtos, como por exemplo, um número limitado de unidades de um determinado modelo, o NFT oferece uma forma de garantir esse controle no número de unidades vendidas. E é exatamente esta solução que atende a Nike em seu projeto de exclusividade de certos modelos associados a Estrelas da NBA, só que agora no universo digital.

Além de apoiar o controle da venda de unidades limitadas de um modelo, a proposta de um modelo físico de tênis associado a um token digital ajuda no controle da revenda, que interessa aos colecionadores.

A realidade virtual está presente no cotidiano e pode auxiliar nas questões do varejo de moda (como realidade aumentada para verificar produtos tangíveis em lojas virtuais). Há mais possibilidades? Quais seriam?

Sim, a primeira e mais óbvia aplicação da realidade virtual na Moda é um provador virtual que ajuda clientes a testar como modelos de roupa ficam “na foto” antes de comprar. Porém, a aplicação mais disruptiva é a venda do modelo em formato virtual, que atende pessoas que precisam “vestir” um determinado conjunto, estilo, apenas para um post em plataformas digitais, e não para uso propriamente dito. Esta inovação abre um novo terreno a ser desbravado por marcas de Moda. Pense que pessoas podem querer se vestir de forma bem básica no dia a dia, principalmente em um cenário com menos viagens, menos exposição à multidões, e mais tempo passado em casa; mas podem precisar de roupas especiais quando estiverem fazendo posts em mídias sociais. Roupas que possivelmente não vão querer repetir, nem usar no seu dia a dia. Neste espaço a realidade virtual entra como produto-fim, e não meio apenas para provar.

Esta questão das NFTs surgiu a partir de games e Instagram? O que explica alguém gastar dinheiro com algo não tangível?

O caminho para entender como alguém gasta dinheiro em produtos virtuais, para usar em mídias sociais e jogos passa por entender a importância que a vida virtual ganhou em nossas vidas. O filme HER, onde Joaquim Phoenix interage com a voz da Scarlett Johansson, oferece uma ótima distopia para refletir sobre essa tendência. Na medida que gastamos mais horas da nossa vida no espaço virtual, passa a fazer sentido gastar parte do nosso orçamento para ter e parecer como queremos neste ambiente virtual, sem necessariamente gastar com roupas e decoração que cada vez menos pessoas vêm, na medida que saímos menos, interagimos menos fora do virtual e recebemos menos visitas em casa. Pode parecer estranho, mas certamente uma parcela da população mundial vai aderir cada vez mais a esta tendência.

Qual o futuro desses itens NFTs? Seria uma tendência passageira? Ou com a gamificação do mundo, tendem a se desenvolver mais?

Não tenho dúvida que não é passageiro. É uma forma de controlar e precificar arte e produtos exclusivos: físicos ou virtuais. E também permite o mercado secundário: revenda e coleção, o que oferece sustentação adicional para esta tendência. Os NFTs não necessariamente estão ligados a gamificação, mas certamente existem várias aplicações que podem usar os dois conceitos simultaneamente. Controle de coleções exclusivas não está ligado a gamificação, mas à decoração de ambientes virtuais, sim, e assim por diante.

Como o NFT pode ser abordado quanto à cultura e à sustentabilidade?

São dois pontos fundamentais. Na esfera da cultura, o NFT pode encontrar barreiras na medida que um discurso do retorno ao real e abandono das redes sociais ganha força. Este é o principal risco do NFT. Na esfera da sustentabilidade, temos uma força favorável ao NFT e à virtualização da Moda, já que uma Moda de uso único virtual não causa o impacto negativo no meio-ambiente que o fast fashion e peças físicas de uso único vinham causando (e ainda causam).

Ilustração: cortesia Havaianas

AdhemasBatista
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