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Oskar Metsavaht, da Osklen, quer que o Brasil seja referência em moda sustentável

By Marjorie van Elven

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Moda |ENTREVISTA

ASAP: as sustainable as possible, as soon as possible (em inglês, ‘o mais sustentável possível, o mais rápido possível'). Esse é o princípio que guia a Osklen, que acaba de ser reconhecida pelo CO Leadership Awards, uma premiação organizada pela ONG inglesa Common Objective para celebrar marcas de moda fazendo a diferença pelo planeta. Fundada em 1988 pelo ex-ortopedista Oskar Metsavaht, a Osklen começou a usar algodão orgânico em 1998. Desde então, o uso de materiais sustentáveis em suas coleções só aumentou.

“Nossa busca pelo ASAP transformou o processo criativo: em vez de desenhar a coleção primeiro e depois escolher os materiais, agora as peças são pensadas a partir dos e-fabrics”, explicou Metsavaht à FashionUnited por telefone. e-Fabrics é como a marca (e seu instituto de pesquisa e desenvolvimento em desenvolvimento sustentável, o Instituto-e) chama os tecidos que impactam menos o meio ambiente.

O Instituto-e foi fundado no começo dos anos 2000, quando a Osklen chamou atenção com a coleção E-Brigade, a qual contava com trechos de documentos como o Protocolo de Kyoto e Agenda 21 nas estampas. O objetivo do instituto é tornar o Brasil uma referência em tecidos sustentáveis. “Queremos ser uma referência em inovação e contribuir com organizações acadêmicas, governamentais e não-governamentais”, declarou Metsavaht. Os tecidos desenvolvidos pelo instituto não são apenas para uso da Osklen, mas para toda a indústria.

Embora a Osklen continue utilizando tecidos tradicionais, a quantidade de e-fabrics aumenta a cada temporada. “A cada coleção nós temos mais peças sustentáveis, mais materiais sustentáveis, e nos especializamos mais nisso. Os e-fabrics são inovação e inovação é cara, inovação ainda não tem escala, inovação tem falhas”, disse o fundador da marca.

Couro de Pirarucu: símbolo do novo luxo?

Entre os tecidos desenvolvidos pelo Instituto-e, um dos que mais chama atenção é o couro de Pirarucu, o maior peixe de água doce do Brasil e pilar da dieta de muitos brasileiros, cuja pele costuma ser descartada pela indústria. De acordo com o Instituto-e, mais de mil comunidades ribeirinhas viram sua renda aumentar em 30 por cento desde que o couro de Pirarucu passou a ser utilizado pela indústria da moda. “Levou anos de pesquisa e desenvolvimento até chegarmos na versão do couro de Pirarucu que temos agora”, explicou Metsavaht. “As primeiras peças desbotavam rápido, não eram muito resistentes, o acabamento não era tão bom porque o material é difícil de costurar”. Pouco a pouco, o Instituto-e e a Osklen foram trabalhando nessas falhas e aperfeiçoando o material.

Agora que atingiram a qualidade desejada, Metsavaht acredita que o couro de Pirarucu pode ser o símbolo de uma nova era na história do luxo, na qual as técnicas europeias serão combinadas a materiais sustentáveis. “Eu acho que a bolsa de couro de Pirarucu tem potencial para ser um dos grandes clássicos da história da moda. O luxo do século XXI não vai ser baseado em bolsas de pele de crocodilo ou cobra, animais em risco de extinção, mas sim em materiais sustentáveis de origem animal vindos de lugares como a Amazônia, que tem a biodiversidade mais rica do mundo”.

Quebrando paradigmas

“Sustentabilidade está na moda. É uma palavra que muitas marcas têm utilizado mais como ferramenta de marketing do que ferramenta de transformação”, lamenta Metsavaht. Para ele, a indústria têxtil tem sido muito mais rápida em tomar uma atitude em relação ao futuro do planeta do que as marcas de design. “As marcas só estão começando a usar materiais sustentáveis agora, materiais estes que foram desenvolvidos pela indústria durante anos. A maioria das marcas nunca se deu ao trabalho de investir em pesquisa e desenvolvimento”.

Incomodado com outras marcas levando o rótulo de sustentáveis enquanto a Osklen está nesse barco desde o começo dos anos 2000, Metsavaht decidiu lançar um documentário sobre a história das atividades sustentáveis de sua marca. O filme, intitulado ‘ASAP’, está disponível no canal da Osklen no YouTube.

No futuro, Metsavaht quer “quebrar ideias equivocadas” do público a respeito do desenvolvimento sustentável. “As pessoas confundem muito moda sustentável com moda vegana, por exemplo. Também quero que as pessoas entendam que a moda não pode ser 100 por cento sustentável. Tem marcas pequenas de T-shirt trabalhando apenas com algodão orgânico que de dizem 100 por cento sustentáveis. Isso é tão ingênuo! O que importa é o volume de práticas sustentáveis que você gera, quantos empregos éticos você gera, isso sim é que tem impacto”.

Fotos: divulgação Osklen

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