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Relançamento Frankie Amaury revive ícones da moda carioca

By Marta De Divitiis

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Moda
Alexia Dechamps e a mochila Carla Credits: Lucio Luna

Termômetro do encontro entre a moda e alta sociedade carioca do fim dos anos 1980 a meados dos anos 2000, a grife de moda em couro Frankie Amaury – criada pela dupla de estilistas Frankie Mackey, argentino de Rosário, e o carioca Amaury Veras – está de volta pelas mãos da sobrinha do segundo, Renata Veras. Para marcar esse retorno no ano em que se comemoram os 45 anos do início da Frankie Amaury, Renata, que hoje mora no Sul da Espanha e desfilava como nova designer no line-up do Fashion Rio, revive um dos itens mais icônicos da marca: a mochila Carla, em couro com ilhoses metálicos, objeto de desejo durante os 25 anos de percurso da dupla.

“Existe um imenso valor afetivo por quem viveu aquela época, era cliente e conviveu com os dois naqueles tempos disruptivos, tão politicamente incorretos que hoje não seriam possíveis, mas absolutamente divertidos. As mochilas da marca eram algumas das peças mais simbólicas, tanto que continuaram fazendo o maior sucesso mesmo com a abertura do Brasil para a moda internacional e a enxurrada de marcas gringas por aqui a partir do final do século. Quem ainda tem a sua FA não abre mão; é item-fetiche, coisa de colecionador”, conta Renata no release de divulgação, que precisou garimpar os arquivos originais da Frankie Amaury para poder desenvolver novamente um dos modelos então à venda, assim como uma bolsa saco. “Praticamente não havia mais nada, muito se perdeu. Quando a marca acabou, em 2004, nada estava digitalizado, mas sobraram fotografias e croquis. Foi preciso matriciar de novo todas as ferragens personalizadas, fechos e maxi ilhoses”, completa a designer no mesmo informe.

São 11 variantes de cor, incluindo uma estampa que mimetiza jeans e um animal print – clássico- da Frankie Amaury – tanto da mochila quanto da bolsa saco, que já podem ser encontradas no site e Instagram da marca e na loja Pinga de Ipanema, e, a partir de junho, na filial paulistana da multimarcas.

Mochila Carla e bolsas saco Credits: Ari Kaye

Projeto afetivo

Para relançar a marca, Renata convocou o diretor criativo Alexandre Schnabl, que trabalhou com visual merchandiser na Frankie Amaury de 1998 a 2002: “Esse é um projeto de afeto, não apenas pelo que a grife representa para a História da Moda Carioca e Brasileira, mas pelo o que vivi ao lado de Amaury nestes últimos momentos da sua trajetória, pouco antes de tudo o que aconteceu, quando ele morreu e depois Frankie abandonou o Brasil. Para marcar esse relançamento, a gente convocou três modelos da dupla, sempre presentes nos desfiles e campanhas. Fátima Muniz Freire, Alexia Dechamps e Silvia Pfeiffer não só fazem parte dessa narrativa como participaram ativamente, no convívio com os dois, da consagração de uma moda em couro urbana e luxuosa no país, em uma era de excessos, quando as supermodelos começavam a despontar como musas no cenário global e as três passaram a ocupar a pole position no mercado nacional. As duas primeiras estão na campanha e Silvia estrela o fashion film que será lançado em meados de maio”, explica Schnabl no mesmo informe.

Sobre o encantamento que os rapazes proporcionavam, Silvia é categórica: “A leitura inovadora, irreverente e audaz do couro, e ao mesmo tempo super chique, fez com que, seja quem usasse ou quem estivesse mostrando Frankie Amaury, todos curtissem aquela moda. Lembro as provas de roupas no ateliê, impagáveis, e de uma das mais charmosas fotos que fiz para uma campanha, em preto & branco. Eles eram muito animados, queridos. Era moderno e antietário”.

Já Alexia declara: “o Rio da Zona Sul era um cidade muito pequena. Eu era argentina como o Frankie, isso nos aproximou. Vira e mexe a gente estava com o embaixador ou o cônsul de lá nos jantares e chegamos a encontrar o presidente [Carlos] Menem no Copacabana Palace, promovido pela marca. Em outra ocasião, circulamos com a supermodelo Valeria Mazza, também de Rosário, quando ela esteve no Brasil para desfilar. Assim, além das profissões, nosso país de origem e o círculo social nos uniram. Eu era muito jovem, apaixonada por eles e nos divertíamos imensamente em um Rio nada careta, bafônico”.

Frankie (direita) e Amaury Credits: cortesia Frankie Amaury

Identidade marcante

Sobre o estilo da marca, a atriz e modelo afirma o aspecto autoral da criação: “Pouca gente na cidade era capaz de criar coleções com identidade tão peculiar. O Rio era território das popozudas. Aí a gente viu surgir essa grife que fazia saias douradas em couro, botava para jogo peças geniais, jaquetas incríveis, arrasava na modelagem, mandava ver na oncinha marcando presença com uma pegada muito glamourosa e uma qualidade maravilhosa. Tenho conhecidas cujas mochilas originais, dessas que estão sendo relançadas, estão inteiras há mais de trinta anos. Eu mesma guardo um casaco que amarrava na cintura e ia até a metade da coxa, do qual me recuso a desfazer”. Silvia Pfeiffer completa: “Eles deixaram um legado importantíssimo. Trouxeram a roupa de couro com caimento bonito e toque sensacional. Foram pioneiros. Isso não pode cair no esquecimento”, diz.

Fátima Muniz Freire faz coro com Silvia: “Devemos a eles a validação de que a roupa de couro não tem dia, hora ou estação. Eles ampliaram a potência do look em couro. Amaury tinha um olhar adiante do seu tempo e as novas gerações precisam muito conhecê-los. Já tive um armário inteiro só de Frankie Amaury”.

Campanha do relançamento Credits: Lucio Luna

Acesso à memória: projeto de livro e filme

Silvia finaliza: “Aplaudo esse projeto de resgate da marca como qualquer outro que tire a moda brasileira do esquecimento, que rememore, celebre e destaque aqueles talentos que fizeram a moda acontecer por aqui, inclusive em segmentos tão restritos como o do couro. Isso deveria ser feito constantemente com todos aqueles que foram pioneiros no estilo carioca em uma época em que a cidade estava à dianteira dos lançamentos nacionais. O Rio pode ter perdido um pouco de espaço, mas ainda é o Rio de Janeiro. É diferente, sabe? As novas fornadas de fashionistas precisam ter acesso à memória”.

O ressurgimento da Frankie Amaury antecipa dois projetos relacionados à marca: uma biografia escrita também por Schnabl, a partir de entrevistas e da pesquisa no acervo conservado por Renata, e um filme dirigido por José Henrique Fonseca, de “Bom dia, Verônica”, produzido pela Zola Filmes.

Alexandre Schnabl fala do porquê do livro, que vai ser editado pela Luste Editores: “Por 25 anos, Frankie Amaury simbolizou um Rio de Janeiro luxuoso, descolado e imitado, mas em constante mutação. Através do encontro entre esses dois rapazes, em Copacabana e depois Saint-Tropez, que viraram tsunami da moda no convívio com o "soçaite", é possível traçar um delicioso painel carioca de mais de duas décadas, uma salada panorâmica que começa na virada da Era Disco para o New Wave, passa pelo Rock Brasil, testemunha a abertura política, avança pela Nova República das emergentes e segue pela alvorada do Novo Milênio. O storytelling da marca é um poderoso caleidoscópio social e cultural do Rio”.

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