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SPFW 25 anos traz reflexão sobre o momento presente

By Marta De Divitiis

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Moda

Na impossibilidade de um grande evento físico devido à pandemia, a comemoração dos 25 anos de SPFW - São Paulo Fashion Week - aconteceu de forma totalmente digital. Foram 33 marcas que apresentaram suas coleções em filmes curtos, seguidos de entrevistas rápidas com os estilistas, nos canais digitais do evento.

Nessa edição histórica, justamente num momento de reflexão, foi estabelecida uma cota mínima de 50 por cento de modelos negros ou indígenas, a primeira vez numa semana de moda no mundo. O evento foi comemorado também todas as noites, com projeções em edifícios da cidade de São Paulo de alguns dos momentos mais marcantes dessa história.

Amplidão de formas e moda sem gênero

O que se pode observar é que a maior parte das coleções foram pensadas tendo em vista o conforto, numa modelagem mais solta no corpo, algumas com bastante amplidão, como é o caso da Hundred, que se inspirou em Copacabana, RJ. Freiheit, do estilista Márcio Mota, pela primeira vez no evento, trouxe essa folga também - toda a modelagem parte de um quadrado, explicou ele, podendo ser usado por homens e mulheres - e de Isaac Silva. Este último faz uma moda mais abrangente - a mesma peça foi vestida por modelos feminina, masculina e plus size. ALG também parte da modelagem de uma T-shirt e trouxe amplidão e conforto em peças streetwear.

Outra marca que trabalhou a amplidão das formas, aliada a uma estamparia refinada foi a Irrita, de Rita Comparato (ex-Neon) e Lia Camargo. Tonalidades vibrantes e peças fluídas em macacões, pantacourts e vestidos foram apresentados num filme dentro de um apartamento, reproduzindo o que se viveu durante o isolamento na pandemia. A Led trouxe peças leves, amplas e sem gênero, num misto de alfaiataria com itens em crochê.

João Pimenta revestiu seus modelos com uma máscara em que não se via o rosto. “Quis que ninguém soubesse se era homem ou mulher quem estava vestindo as roupas, mostrando bem essa claustrofobia causada pelo isolamento,”disse ele. Paletós, saias e pantalonas, de alfaiataria, receberam bordados e aplicações, luxuosos.

Vale mencionar Korshi, de Pedro Korshi, que trabalha a versatilidade de todas as peças. Assim uma bolsa pode se tornar um chapéu, uma calça comprida um shorts ou saia e uma saia, top, dependendo da forma como se é abotoada, num guarda-roupa inteligente.

Na moda praia Lenny veio com maiôs e biquínis com sobreposição de golas e como saídas de praia, caftans e vestidos com estampa de flores em tonalidades vibrantes. Fluidez e cores em profusão.

Reuso de materiais

O momento atual fez algumas marcas se voltarem para coleções antigas e delas, partir para uma nova coleção. Foi o caso da Amapô, que trabalhou o denim em calças, jaquetas e saias; Gloria Coelho, que buscou em referências antigas seu ponto de partida. Ponto Firme, de Gustavo Silvestre (que trabalha crochê com egressos do sistema carcerário), em parceria com a marca NK, reconstruiu vestidos leves e diáfanos num trabalho interessante - destaque para o vestido que trouxe tons de cinza e bege, entremeados por renda.

Na moda praia Amir Slama se valeu também de materiais que tinha em acervo como acrílicos, que usou em bijuterias e acessórios para biquinis, maiôs e sungas. A. Niemeyer também usou matéria-prima que já tinha, ressignificando a coleção.

A estreante Renata Buzzo trouxe uma coleção bem feita, com reaproveitamento de materiais também. A marca, vegana, slow fashion, produz lixo zero, trabalhando rolotês de tecido em franjas, em pétalas de tecido aplicadas em vestidos sofisticados, com leve transparência.

Victor Hugo Matos trouxe um trabalho artesanal, único. Peças de crochê foram bordadas com miçangas, pérolas e contas, em tops em tonalidades terrosas.

Luiz Cláudio do Apartamento 03 veio com coleção inspirada no livro Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago. Segundo o estilista, parte da coleção já estava pronta, para ser exibida na edição cancelada. Roupas fluídas e leves, em preto e branco foram vistos. Aluf também trabalhou um pouco de inverno e de verão.

Moda como forma de expressão política

O fechamento da semana trouxe uma homenagem a Zuzu Angel, estilista que fez da moda plataforma de expressão ainda nos anos 70, durante a ditadura militar, o que lhe custou a vida, perdida num acidente automobilístico. A homenagem veio de Ronaldo Fraga, reeditando a inspiração de coleção apresentada no início dos anos 2000, bastante aclamada. As estampas de Zuzu, de anjos e tanques de guerra foram usados por Fraga em vestidos longos, detalhados por rendas de rendeiras da região do Cariri, na Paraíba e Richelieu, de rendeiras de Mariana e Barra Longa, MG.

Poético o estilista entremeou a apresentação com uma conversa com a estilista, mostrando a similaridade do momento presente com o período em que Zuzu atuou. No piano a intérprete Cida Moreira cantou Angélica, de Chico Buarque de Holanda, música dedicada a Zuzu. Um final emocionante, mostrando que a moda, mais do que representação da atualidade, também serve de palco para a expressão artística e política.

Fotos: cortesia SPFW; João Henrique Correa (Handred) e Danilo Sorrino (Ponto Firme)

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